Em 1995 a bomba grunge havia já explodido; Cobain havia morrido um ano antes; os Pearl Jam tinham como última proposta “Vitalogy”, um disco que procurava caminhos para lá das camisas de flanela. No meio disto, no meio desta espécie de encruzilhada de Seattle, surgiam os Mad Season, vendidos como uma espécie de supergrupo da cidade.
Mike McCready, guitarrista dos Pearl Jam; Barret Martin, baterista dos Screaming Trees; o baixista de blues John Baker Saunders; e Layne Staley, vocalista dos Alice in Chains.
Em vez de supergrupo, na verdade, os Mad Season eram mais um “support group”, no sentido clínico. McCready conheceu Saunders numa clínica de reabilitação. Encontrava-se um homem novo, e sentia que nos Pearl Jam não lhe eram dadas todas as oportunidades enquanto compositor, numa banda em que todos tinham peso e davam inputs que eram geridos cirurgicamente. Das primeiras jams com Saunders surge uma frescura que lhe parecia natural na nova fase da sua vida. Foram em busca de mais; o baterista era bom e estava de pousio, entrou que nem uma luva. Faltava a cereja em cima do bolo, Staley, também à procura de largar as drogas e igualmente sentindo-se prisioneiro da mão férrea que o guitarrista e principal compositor Jerry Cantrell usava na condução dos Alice in Chains.
McCready explica, em entrevistas recentes, que a ideia era criar sem pressão, e estabelecer um bom ambiente que os ensinasse, a todos, a fazer música sem as drogas que sempre haviam feito parte da cultura musical de Seattle. “Pensei que o Layne seria perfeito, e achei que todos juntos poderíamos aguentar sem droga, que a música feita desta forma podia ajudar a isso”, afirmou à Classic Rock do último mês.
De tudo isto surgiu apenas um disco, “Above”, que é agora reeditado em versão caixa com extras. Em termos de som, diria em termos simplistas tratar-se do elo perdido entre os Alice in Chains e os Pearl Jam, com algum blues à mistura. São 10 músicas (alinhamento agora expandido), seis meses muito intensos de trabalho e prazer. Depois, as respectivas bandas voltaram à actividade e lá foram os seus membros, com a promessa de voltar. Mas de volta vieram também os problemas de Lane Staley com as drogas (tema de muitas das letras deste disco), meses e anos perdidos. McCready, nos tempos livres, ainda arregimentou Mark Lanegan, o mítico vocalista dos Screaming Trees, para ir avançando na composição de novas músicas dos Mad Season, mas se Staley era agarrado, Lanegan não o era menos. Oficialmente, os Mad Season nunca acabaram. Acabaram, de facto, em 1999, quando o baixista Saunders perdeu finalmente a batalha com a heroína. A morte de Staley, em 2002 e perante o mesmo inimigo, acabou definitivamente com qualquer esperança de voltarmos a ver este supergrupo em acção.
E foram os dois sobreviventes, McCready e Barrett Martin, quem cuidou desta reedição, sobretudo o primeiro, o homem que fala com todo o saudosista carinho deste projecto e que diz que os Mad Season – após as mortes que sucederam – sempre foram um espinho cravado na sua vida.
O que se ouve no disco são as 10 canções originais (remasterizadas), mais três inéditos em que a banda havia trabalhado e que foram completadas com a vocalização do fiel amigo Lanegan; e um segundo cd ao vivo, com a banda numa grande forma e Staley a mostrar que todos os efeitos de voz nos discos dos Alice in Chains escondiam uma capacidade que, sem rede, é ainda mais impressionante.
Os originais mostram um ambiente dorido, negro, de recuperação mansa e de arrependimento pesado pelo caminho seguido até aí; o disco ao vivo mostra uma banda a curtir à grande a sua música, e numa boa disposição em palco que nunca suspeitaríamos, dado o que se seguiu. O pacote vale por tudo: os originais são fabulosos, mas isto os fãs da velha guarda já sabiam; as músicas novas são igualmente boas, mas o esforçado Lanegan só nos faz sentir mais falta de Staley; o disco ao vivo (com óptimo som) é uma lufada de ar fresco que nos deixa a pensar no potencial deste grupo amaldiçoado.
Se só comprarem um disco este ano (alguém ainda compra discos?…eu compro!) comprem este. Grunge para adultos, poesia feita música. Levou-me de volta a esses tempos, mas não envelheceu um minuto, pelo que não deixará de agarrar a sério quem for, virgem, ouvi-lo pela primeira vez.