The Astronaut é o mais recente álbum da norte americana Jana Pochop. E se a artista e o disco nada lhe dizem, então é tempo de reverter essas situações. Pode (e deve) começar por aqui.
Jana Pochop aterrou nos nossos ouvidos de maneira súbita e sem aviso prévio. Como astronauta dos sons etéreos que parece ser, foi tão bem recebida que já não queremos que levante voo tão cedo. Pode permanecer connosco o tempo que muito bem entender. Teremos sempre um lugar confortável onde a colocar, na cabeça ou no coração. Ou em qualquer outra assoalhada de bom gosto. The Astronaut é, num certo sentido, um clássico instantâneo, um disco feito com ingredientes escolhidos a preceito. Um disco delicado e saboroso. Poderíamos inferir, mais não seja pelo título, que o álbum nos levasse numa qualquer viagem intergalática, mas afinal é bem terreno, bem à flor da pele, frágil e quebradiço. Daí a importância do bom acolhimento a que nos referíamos algumas linhas acima desta. Verão que nada custa, basta colocar a girar The Astronaut e deixar-se ir no seu encanto.
São apenas oito, as canções de The Astronaut. O disco é curto, mas a alma que nele sentimos existir é extensa e fértil. Nada do que aqui se escuta é verdadeiramente novo, mas isso pouco importa. Há muito que sabemos que somos de um tempo em que inventamos o que já foi inventado, por isso The Astronaut simula e finta o imaginário de tantos outros atrás de si, preenchendo-o com palavras, voz e sons de sempre, tornados jovens e frescos. É assim, a modernidade do antigamente.
O álbum começa com “Head Spin” e, de imediato, tudo começa a girar, a agitar-se, como a própria canção anuncia (“We’re dizzy and we’re wondering / This is why our heads spin”), mas de uma forma tão gentil e sedutora que a rendição é imediata. “As Long As It Feels Right” (o título do segundo tema), pode durar. E dura. A guitarra e os teclados dão-nos razões para acreditarmos no que diz e no que canta. E Jana Pochop canta versos tão bonitos e inteligentes como “I speak Spanish to you when I’m drunk”, sendo que a estranheza das palavras, na verdade, faz sentido. Depois segue-se “The Hard Part”, mais subtil do que as anteriores, mais lenta, mais entrelaçada, mais artesanal. “Quiet All The Time” é igualmente ténue, fina, mas astuciosa e introspetiva (“What’s the point of all this silence / what’s it gonna be this time?”), bonita como um céu estrelado. A serenidade adensa-se e avança com “Exit Plan”, desembocando na lindíssima “Solar System” (“Since I sent my heart out like an astronaut / Tethered to my chest with a hopeful thought / Thinking it would be your match / But you sent it back // I will probably get back home / But I will never get back whole”), com letra e melodia verdadeiramente soberbas. Por fim, “The Maps” fecha o álbum com elegância, seguro da viagem feita e, desse modo, talvez valha a pena irmos cantarolando os versos “When we land on this earth / We begin by counting upwards / Til we’re grown and learn the curse / That the clock is counting backwards”. Pois, a verdade aparece sempre ao de cima, à superfície do que desejaríamos esquecer.
The Astronaut é um disco que se lê, ao mesmo tempo que também se ouve, naturalmente. O prazer complementa-se, e isso nem sempre acontece em muitos dos álbuns que ouvimos e gostamos. Assim, esta recente entrega de Jana Pochop é (quase) um pequeno conto musicado, pleno de intrincados sentimentos humanos. A voz que aqui ouvimos interroga-se e responde por nós, o que é pleno de louvável altruísmo. Assim sendo, a devida vénia e o agradecimento a Jana Pochop ficam feitos.