Quem me conhece bem sabe que tomei como missão evangelizar o mundo para as intermináveis virtudes de Mr. Frank Black aka Black Francis aka Charles Thompson aka o génio que criou e alimentou os Pixies.
Não perco uma oportunidade para tentar colar aos meus amigos qualquer um dos muitos e muitos discos a solo e com diversas formações do senhor em causa, e por isso tenho tentado mantê-lo sempre debaixo de olho. Não é fácil, porque ele é um sacana trabalhador.
De tudo o que ele fez desde que os Pixies penduraram as botas em termos criativos, os Grand Duchy são o ovni mais curioso. Começaram como a banda de Frank Black e da sua esposa Violet Clark. Esta participou em alguns discos do futuro marido, como Seven Fingers, e acabaram por casar há uns anos. Tanto gostaram de trabalhar juntos – e viver juntos ajuda – que decidiram formar uma banda que sintetizasse e conciliasse o background musical dos dois: a pop e os 80’s de Violet Clark e o indie e garage de Frank Black. Em 2009 lançaram o primeiro disco, Petit Fours, e eu saltei-lhe logo em cima. Ainda a soar a Frank Black e a Pixies, com um toque mais doce de pop. Adorei o disco, mas depois perdi-lhes o rasto.
Há uns dias, estava na Fnac a arrebanhar as promoções bem catitas que têm agora e dei, sem querer, com um novo disco de Grand Duchy, este Let the People Speak, de cuja existência eu desconhecia (shame on me). Trouxe-o de imediato, todo contente com a surpresa, e só mais tarde me apercebi que o disco já é do ano passado. Claramente o mundo continua erradamente empenhado em ignorar tudo o que Black faz que não tenha o carimbo Pixies.
A diferença deste disco para o primeiro começa na própria banda. No primeiro, tudo era Black e Clark, todos os instrumentos e todas as composições. Aqui não. Em Let the People Speak há mesmo uma banda, com mais uns gajos e umas gajas que, heresia, até assinam músicas. Aliás, num disco com 14 músicas a sério (há mais umas mariquices pelo meio), há seis nas quais Black não assina nem música nem letra: algo extraordinário para um tipo que sempre rejeitou as ideias de quem quer que fosse nos Pixies (nomeadamente Kim Deal, a quem foi permitido dar voz principal apenas a um tema da carreira da banda, o óptimo “Gigantic”).
Isto pode significar que Black finalmente amadureceu, finalmente perdeu as inseguranças, finalmente sentiu que já não tinha de provar ao mundo ser um génio na composição musical do indie rock (como se o mundo se importasse).
Ainda assim, soa a Black. Mas soa a muitas outras coisas também, fazendo deste disco um objecto único na sua longa carreira de mais de 20 discos (entre bandas e a solo). Para vos dar uma ideia, junto estas achegas: Pixies+Frank Black+Transvision Vamp+Blondie. Parece uma salganhada, eu sei. Mas eu também sei que isto vos abriu o apetite, seus lambões.
Nunca Black foi tão electrónico, tão pop, tão descontraído. Apesar de tudo, não deixa de ser um disco com alguma densidade, com temas mais longos com alguma controlada exploração sonora. O que perpassa tudo é um dedo para a pop que Black sempre teve, mas que só com o incentivo da esposa teve o à-vontade para assumir.
Deixo-vos com o vídeo de “Silver Boys”, o primeiro single tirado do disco, e provavelmente a coisa mais descaradamente pop que alguma vez ouvimos a este grande senhor.
Olá Carlos. Foi na Fnac do Chiado, mas este não estava em promoção. Custou-me uns valentes 17 euros. Quanto às promoções catitas, para além dos já habituais cds a 5 euros, mais antigos, há muita coisa nova a 11 euros, o que já é um preço aceitável por um cd acabado de sair. Abraço.
Este disco estava nas “promoções bem catitas” de que Fnac? Fiquei muito interessado em saber.