Michael Stipe decide ser actor e veste a pele de diferentes personagens, enquanto Buck arruma o bandolim e agarra de novo a guitarra elétrica. Assim nasceu Monster.
Após dois álbuns mais introspectivos, onde reinam as baladas e a toada ligeira, os R.E.M. decidiram baralhar e voltar a dar. As brincadeiras com bandolins e afins acabaram, estava na hora de tirar o pó que se acumulava por cima da guitarra elétrica e mostrar à legião de fãs granjeada pós-Out of Time que também sabiam fazer um álbum de rock, numa altura em que era o rock que dominava as tabelas de vendas. No fundo trata-se do nono álbum da carreira, mas para a grande maioria das pessoas era sentido como sendo o terceiro, já que o passado IRS continuava a ser praticamente desconhecido.
Basta ouvir o arranque de Monster para se perceber a intenção de Stipe e companhia para este novo registo. “What’s the Frequency, Kenneth?” tem um riff fortíssimo, distorção a rodos, e críticas a uma nova geração de jovens. Stipe cria um personagem que tenta perceber quais as motivações da mesma, questionando tudo e todos, mas chegando ao fim da música com um desapontante “I couldn’t understand”. Pelo meio, referências a “Slackers”, filme de Linklater que retrata, precisamente, a geração colocada num saco pelos media como X.
Para a música seguinte a banda foi buscar um peso pesado do rock alternativo, nada mais nada menos que Thurston Moore. Conseguem imaginar o resultado, certo? “Crush with an Eyeliner” mete referências a Courtney Love, drag queens e os New York Dolls ao barulho, sendo uma grande malha que faz uma estranha ponte entre o grunge/alternativo e o glam dos anos 70. Saltemos agora um pouco até “Strange Currencies”, a música mais fácil do álbum (afinal de contas mesmo as bandas rock também as fazem…). Música suave, pop, lame no sentido em que discorre sobre o potencial das palavras numa relação e em convencer alguém que se é a pessoa certa. Single de fácil digestão para quem ficou com os cabelos em pé pelos riffs das músicas iniciais.
“Bang and Blame”, oitava faixa de Monster, foi, ironicamente, o single mais alto no top da Billboard desde “Shiny Happy People”. As diferenças entre estas músicas não podiam ser mais evidentes, e reveladoras da amplitude de espectro que a banda R.E.M. possui. Por fim, não posso deixar de realçar “Let Me In”, música assumidamente dedicada a Kurt Cobain. Na altura Cobain e Stipe eram grandes amigos, e o vocalista dos R.E.M. estava numa missão de conseguir salvar Cobain da depressão em que se encontrava. Falhada que estava a missão, restou-lhe escrever esta música, que transmite um deseperado pedido para o deixar entrar, algo que Kurt, no fundo, nunca permitiu a Stipe.
Monster é indubitavelmente um grande álbum. A meu ver, o último grande álbum dos R.E.M. A tour que resultou do mesmo teve os Sonic Youth e uns ainda pouco conhecidos Radiohead como bandas suporte, servindo para cimentar a grandiosidade e importância que os R.E.M. tiveram no panorama da música alternativa. Ou, vá, da música em geral, como a conhecemos hoje.