Há bandas que nos mimam demasiado e depois do excelente Teatro Lúcido de 2022, La Femme voltam com novo disco de oito canções.
Este París-Hawaï começa com a canção “L’Hawaïene”, uma declaração de intenções do disco com os seus oito minutos de duração. A temática das ilhas do pacífico mantém-se, com o típico som dos La Femme por todo o disco, que nos transporta para latitudes onde há flores, saias de palha e tape delays nas guitarras. A banda de Sacha Got, Marlon Magnée, Sam Lefèvre e Noé Delmas apressenta assim o seu quinto trabalho.
E embalados é como passamos os minutos deste disco, que parece um devaneio estilístico ou talvez potenciado pela descoberta de um som de pedal novo, já que parece que a banda se deixa levar pelos sons ondulantes e com eco e abandona os sons do anterior trabalho, mais dedicado à América do Sul, trocando-o pelo pacífico. A própria banda assume que a ideia é relaxar e ir buscar a exótica e a surf music. Não é a primeira vez que o fazem, pelo qual se estranha menos. Vale a pena lembrar que o primeiro disco dos La Femme se chamava Psycho Tropical Berlin.
Ainda assim as toadas psicadélicas da banda nunca ficam muito longe, ainda se ao fechar os olhos podemos sonhar com ilhas paradisíacas ao escutar este París-Hawaï. “Moeʻuhane pāʻani” (que significa algo como jogo de sonhos), por exemplo, tem algo que se parece com uma voz etérea criada com sons guturais ou uma talkbox estilo Frampton. Tudo isto misturado com lânguidas guitarras e sons de pássaros. Também há chuva em “Imagine Waikiki” e “Aloha Baby” mas no geral o disco parece ir acalmando com o tempo. Tem também algo de droning, com pads e acordes que se extendem por minutos.
Um bom disco para relaxar que não é para todos os gostos, mas que ao mesmo tempo é bastante La Femme em versão relax. Quero dizer com isto que faltam as canções animadas de outros tempos (a mais animada é mesmo “Aloha Baby”) mas que não podia ser de outra forma nesta banda psicadélica eletrónica ao subordinar o disco a este tema do Havai.