O segundo trabalho de Runner, like dying stars, we’re reaching out, é um disco de uma triste e arrebatadora beleza outonal.
Runnner é a máscara discográfica de Noah Weinman, um norte-americano de Los Angeles que anda há uns anos a aperfeiçoar um estilo a que alguns chamam bedroom-folk (o que quer que isso seja). Depois de uma série de músicas lançadas no Bandcamp, arrancou 2021 com um disco de estreia, Always Repeating, que era na verdade uma coleção de temas anteriores espalhados por vários formatos.
E se esse trabalho era marcado por um registo mais puramente folk, movido sobretudo a guitarra acústica, o disco deste ano, like dying stars, we’re reaching out, expande significativamente esse seu mundo, e as tintas que o pintam. Runnner vem dessa fonte onde beberam artistas recomendáveis como The Shins, Elliot Smith, Sufjan Stevens, Avi Bufallo ou Bon Iver, aquilo a que podemos chamar o indie para o homem que sente e pensa. E o que ouvimos neste disco remete-nos, à vez, para esses aconchegantes companheiros de tantas viagens e tantas vigílias.
like dying stars, we’re reaching out é um disco que habita um mundo de solidão. Um mundo no qual o autor não está sozinho, porque existe outro, mas outro que não está ali, ao seu lado. As letras, simples mas muito certeiras, desarmam todos aqueles que têm a ousadia de se permitir sentir. As canções contam histórias de perda, de saudade, de vergonha, de incapacidade, de uma vontade de correr atrás do sonho sabendo que faltará sempre a confiança para realmente o fazer.
O melhor retrato rápido deste disco e de Runnner é “I only sing about food”, uma delícia pop que rouba o maior truque dos saudosos Smiths, uma música que nos anima e uma letra que nos derruba:
“I’m an idiot, I cried in your car
When I couldn’t find the words I was looking for I overanalyze, I never let it feel good I only think about death I only sing about food”Os temas alternam entre o lento e contemplativo e o mais mexido, sem nunca realmente entrar em correrias (Runnner só de nome, de facto). O que há sempre em comum é a beleza, a solidão, e um estranho conforto em nelas habitar. like dying stars, we’re reaching out é uma obra cativante, enleante e que cheira a outono e aos primeiros frios.
Quem se quiser entregar, será recompensado a triplicar, disso não temos dúvidas. Quem tem a coragem de deixar tudo isto entrar?