Julian Cope é um dos segredos mais bem guardados da velha Albion. Só esse facto merece que dele façamos notícia, mesmo que seja para nos referirmos ao lançamento de um best of, coisa que não é nada comum acontecer no Altamont. No entanto, este não é apenas mais um disco de recolha dos melhores trabalhos dos artistas mais conhecidos mundialmente. Até porque, se houve um tempo em que Julian Cope era um músico famoso e apreciado em toda a parte (primeiro como membro dos The Teardrop Explodes, e depois numa excelente carreira a solo), há já muitos anos que o seu percurso se transformou numa busca por um caminho declaradamente mais afastado do grande público, mais experimental, mas também mais consciente de um sentido de missão ideológica que nunca anteriormente havia atingido os patamares que conseguiu obter ao longo das últimas duas décadas. Afastado das grandes gravadoras, e seguro do rumo que queria dar à sua vida artística, Julian Cope tem-se distribuído por vários projetos. LAMF, Queen Elizabeth e Brain Donor são exemplos maiores do que digo. No entanto, este Trip Advizer (fantástico título, todo ele denunciador do psicadelismo que sempre orientou a sua criação artística, embora brincando foneticamente, ao mesmo tempo, com o conhecido site de avaliações de hotéis e afins) compila dezasseis canções em nome próprio. É, portanto, de um best of que aqui se trata, compreendendo canções que surgiram a público entre 1999 e 2014. A um público muito privado, diga-se. São sete os álbuns representados nesse período temporal, a saber: Rome Wasn’t Burned In a Day, Citizen Cain’d, Dark Orgasm, You Gotta Problem With Me, Black Sleep, Psychedelic Revolution e Revolutionary Suicide. Para além disso, há ainda duas canções que são frequentemente tocadas em concertos, mas que só agora surgem em formato de estúdio, e ainda uma regravação do tema «Psychedelic Revolution». Tudo se resume a um festim que se estranhará, eventualmente, em primeiras audições, mas que foi esculpido para acertar em cheio nas nossas cabeças.
Algumas das canções são fortíssimas. As melodias de «These Things I Know», de «Psychedelic Odin» ou de «They Were On Hard Drugs» ficam imediatamente presas às cabeças de quem as ouve. São, a par disso, intrinsecamente copeanas, não só pelas temáticas que abordam, como também pelos reconhecidos tiques composicionais do mestre drudion. Mas são muitos mais os momentos que merecem audição atenta: «I’m Living In The Room They Found Saddam In» (canção composta aquando da morte do ditador iraquiano), «Woden», All The Blowing-Themselves-Up Motherfuckers», (tema sobre os homens-bomba e os seus ataques suicidas, caricaturando a ideia e a convicção do paraíso que julgam encontrar depois de mortos, uma vez que eles, como se diz na parte final do refrão, «Will realise the minute they die that they were suckers») e «Psychedelic Revolution» são canções enormes, feitas para o mundo as ouvir. Trip Advizer apresenta-nos 16 temas e só pode ser comprado no site do próprio Julian Cope. Basta procurarem por Head Heritage. Quando a compra é efetuada online, um EP em mp3 de altíssima qualidade (Trip Advizer EP) é oferecido gratuitamente. Traz 3 composições, de que destaco particularmente «Julian In The Underworld», canção feita após um intenso e assustador estado pelo qual o músico passou, e que o próprio conta melhor do que ninguém, no folheto do cd: «This song was written about the psychedelic fallout that I experienced for four long months after inhaling a massive dose of salvia in June 2009 (…) Unfortunately, the size of the dose proppeled me, nay, hurld me into such a netherworld quagmire that I was unable to drive a car and put me in genuine fear of my sanity. My family rallied as best they could, but were deeply troubled to see their once-capable man-of-the-house reduced to more than salad with attitude.» A dose de droga tomada por Julian Cope teve o propósito de comemorar o seu quinquagésimo aniversário.
Para terminar, e em jeito de resumo daquilo que podemos encontrar neste fantástico Trip Advizer, acrescento apenas tratar-se de um disco de um músico visionário, devoto de uma certa visão do rock’n roll, e cáustico em relação a temas fraturantes do mundo atual. O archdrude está de volta em todo o seu esplendor, e por nos parecer da mais elementar justiça dar a conhecer um pouco do trajeto que Julian Cope trilhou nos últimos 15 anos, aqui vos deixamos a sugestão deste Trip Advizer. Em janeiro de 2011, numa das suas edições, a New Musical Express disse sobre Cope o seguinte: «The man should have his own blue plaque.» O mundo ainda não a atribuiu, é certo, mas não será por falta de lembrança do Altamont que o good old Cope viverá privado desse reconhecimento público o resto da sua vida.