O terceiro longa duração, Qualquer Coisa Pá Música, é um dos discos de Jorge Palma com mais clássicos por metro quadrado. O tempero também é saboroso, com muita euforia bluegrass.
Em ’79, Palma regressa a Portugal, depois de dois anos a palmilhar a Europa como músico de rua. A vasilha de canções estava cheia, era preciso despejá-la em Lisboa antes de partir outra vez. Acomodou-se numa pensão na Costa do Castelo, começando a ultimar os detalhes do seu novo – e inspirado – disco, Qualquer Coisa Pá Música.
“Quero o Meu Dinheiro de Volta” e a canção-título comungam do frenesim acústico do bluegrass (com os banjos da praxe e tudo), paixão adquirida no seu périplo europeu, onde chegou a formar uma banda com dois americanos e um sueco. “Qualquer Coisa Para a Música” versa justamente sobre a sua vida de busker nos metros de Paris, pedindo “quelque chose pour la musique”.
Elementos bluegrass assomam também em “Maçã de Junho” (imortalizada no Palma’s Gang ao Vivo no Johnny Guitar) e no medley “Mal e Bem / Estações / Só Mais um Beijo”. A balada lindíssima “Acorda, Menina Linda”, com piano e cordas orquestradas, já nada tem a ver com a toada do Kentucky. Os demais temas ainda estão mais longe da estética bluegrass, mais roqueiras do que outra coisa, com uma guitarra eléctrica ácida e elegante.
“Essa Miúda” e “Terra dos Sonhos” são dois clássicos que encontram aqui residência, o último com Sérgio Godinho como convidado especial. O diálogo scat improvisado – à Tom e Elis em “Águas de Março” – é uma delícia. Palma sempre assumiu a influência de Godinho (bem patente, aliás, no tema “Mal e Bem”), pagando aqui tributo ao seu amigo e mestre.
O amadurecimento criativo de Jorge Palma assoma também na voz, já mais grave e espessa, abandonando o timbre imberbe dos dois primeiros discos.
Completado o seu terceiro álbum, já nada o prende aqui. As ruas efervescentes de Paris chamam-no outra vez…