Quando dois artistas ímpares conseguem unir-se e criar um supergrupo é porque a sua qualidade, e a qualidade das suas canções, é extraordinária. Juntaram-se para um concerto, e do concerto fez-se um disco.
Se estivéssemos a recolher material para colocar numa daquelas cápsulas do tempo enviadas para o desconhecido espaço, na esperança de encontrar vida inteligente, este disco seria um forte candidato.
O álbum “Juntos” reúne dois dos maiores cantores-escritores nacionais, Jorge Palma e Sérgio Godinho, e como seria injusto eternizar apenas um, ou apenas um dos seus discos, o melhor seria deixar para a posteridade um disco que não só os une, mas também cria versões aprimoradas de verdadeiros hinos da música nacional do século XX.
Em Maio de 2015, o dueto reúne-se pela primeira vez em palco para um espetáculo de seu nome “Juntos”, ainda que pareça um nome simplista é um termo que tudo explica. Não é um espetáculo onde o Jorge Palma participa com o Sérgio Godinho, ou vice-versa, mas sim a criação de uma espécie de “supergrupo” de dois grandes.
O disco em destaque, resultou do espetáculo com o mesmo nome, foi gravado dias 24 e 25 de Setembro de 2015, no Theatro Circo, em Braga. Não sei se a escolha do local foi apenas uma coincidência, mas sendo o Theatro Circo uma das mais bonitas salas de espetáculo de Portugal, senão a mais bonita, o brilhantismo do seu lustre e da talha dourada confunde-se com o das canções.
Para quem passou grande parte da vida a ouvir “Dá-me Lume” ou “O Elixir da Eterna Juventude” é inevitável saber a quem pertence cada uma das canções. Mas, para o tal ET que encontrará a cápsula do tempo, e com os arranjos de tal maneira entrançados, terá dificuldade em perceber qual é o “som” do Palma ou o “som” do Godinho. Até a lírica, nesta amálgama de poemas, acaba também por ser pouco exclusiva de um ou de outro.
No disco não faltam “Frágil”, “Deixa-me rir” ou “Na Terra dos Sonhos” de Jorge Palma, esta última com a provocação de Godinho dizendo que a canção lhe foi “palmada pelo Palma”. E do lado de Godinho, constam “A Noite Passada”, onde o seu parceiro confidencia, em forma de troca de galhardetes, que é uma canção que gostava de ter escrito, constam também “O Primeiro Dia” ou “Dancemos no Mundo”. De facto, olhando um pouco mais de perto para as canções que fazem parte do disco, este também podia ser um best of .
Terminando com um voto através de um trecho da canção com que termina o disco/concerto, e como tantos que fazem parte do nosso quotidiano (quem nunca disse “encosta-te a mim” com a musicalidade da canção do mesmo nome), “enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar” e que haja muita estrada para andar para aqueles dois continuarem a ser lendas vivas da música nacional.