E ao sexto disco, James Blake, nascido em Londres faz este mês 35 anos, volta a casa. Não no sentido literal – Londres esteve sempre na sua música -, mas figurativo: em Playing Robots Into Heaven regressa o dubstep, a eletrónica futurista, o estropiar de canções. Vitória absoluta.
Com muito menos incursões por latitudes como o hip-hop ou novas linguagens de aragem latina, James Blake fez, em 2023, um disco que muitos temiam que o músico já não tivesse em si: um álbum de outro planeta, de canções aparentemente desconexas, com base eletrónica, piano, voz e pouco mais – o ambiente é negro e denso, contrastante com a luz que em anos mais recentes entrou nalguma música do inglês.
Depois daquele que é o seu único tiro ao lado até à data – Friends That Break Your Heart, de há dois anos -, o caminho terá apresentado vários percursos ao músico. Assentar no piano e voz? Convidar parceiros para uma viagem mais segura? Regressar ao passado com um olho no futuro? Recentrar o foco?
Playing Robots Into Heaven não tem vozes alheias a Blake, nem faria sentido: é um disco ‘back to basics’, acrescentando esteroides aos elementos que aqui e ali sentimos que poderiam pertencer aos primeiros EP do músico, lançados há perto de 15 anos. Canções lineares e redondas? Blake sabe-as fazer, já o provou, mas este não é o momento e a ocasião para tal.
Destaques? “Asking to Break” é a primeira chapada na cara, a porta de entrada numa aventura, a batida, a batida; “Tell Me” e “Fall Back”, faixas três e quatro, os momentos mais pista de dança do disco – mas façam atenção que a pista é escorregadia e imprevisível, reservando surpresas para os mais incautos; “If You Can Hear Me” é quase só piano e voz, acaba quando ainda parece ter tanto para dar, mas já nos tanto nos deu em dois minutos e meio.
Playing Robots Into Heaven é perigoso, tem o cheiro da noite, o sabor do futuro. James Blake continua dono da sua voz, daquela voz, e voltou a ser nome fundamental da música feita no presente mas que grita vanguarda a cada momento. É um regresso que temíamos não ser possível ao mesmo tempo que, lá no fundo, sempre sabíamos que iria acontecer.