Um disco lento e hipnótico, temperado pelo espírito de algum indie dos anos 90.
Os norte-americanos Doom Flower são uma espécie de supergrupo, no sentido em que juntam malta que habitualmente anda pelas suas próprias bandas, em Chicago. Tudo revolve sobretudo à volta de Jess Price, vocalista e guitarrista, cuja voz e guitarra indie esparsa marcam o som da banda e deste disco. Limestone Ritual, editado em Janeiro deste ano, é o segundo álbum da banda, seguindo-se ao registo homónimo da estreia, em 2021.
Aquilo que separa os dois discos é, sobretudo, a parte rítmica, e isso teve uma razão bem prosaica: o baterista Areif Sless-Kitain estava indisponível na altura da gravação e por isso a percussão assentou, desta vez, em samples. Isto dá a Limestone Ritual toda uma nova aura, quase a roçar o trip-hop, graças aos múltiplos samples de bateria de hip-hop que servem de estrutura às deambulações do grupo.
Mas não tenhamos ilusões, todo este trabalho tresanda (no bom sentido) a indie dos anos 90. Será a voz vagamente aborrecida da cantora, a guitarra negra, a repetição narcotizada de um mesmo tema com subtis mutações? Não sabemos. Mas sabemos que este caldeirão que tanto lembra a dreampop como as Breeders ou o shoegaze menos “pedaleiro” nos transporta imediatamente para essa década em que a música alternativa trazia, quase todos os meses, as coisas mais frescas e interessantes da cena musical.
Limestone Ritual sofre apenas de dois problemas, que na verdade é apenas um: tirando “The Space” e o encerramento com “Between us” – ambos exercícios puramente instrumentais de um sintetizador negro – todos os temas acabam por soar um pouco ao mesmo. O segundo problema, relacionado com o primeiro, é a ausência de um grande single, que certamente elevaria o conjunto do trabalho. Até porque há por aqui melodia e jeito para a coisa, apenas parece que o exercício não passou (ainda) por aí, em vez disso insistindo numa longa e apesar de tudo sempre interessante conversa com Jess e as suas palavras.
É certamente um disco que não será captado pelos radares da esmagadora maioria dos ouvintes. Mas é um disco hipnótico, outonal e original, que recompensa quem a ele se entrega.