Ah, o bom e velho Frank Black, aka Black Francis, aka Charles Thompson, aka o gajo dos Pixies.
Durante o longo período em que os Pixies estiveram mortos (afinal só adormecidos, afinal moribundos, como viemos a descobrir pelo último disco), Black nunca parou de fazer e editar música. Não é fácil acompanhar de forma organizada o seu percurso. Desde o seu primeiro esforço a solo, de 1993, a discografia “oficial” conta com cerca de 20 álbuns. E isto sem contar com os EP e Indie City, dos Pixies, ou dos seus discos com os Grand Duchy, banda que Black reparte com a sua esposa. Pior ainda, os discos foram lançados por várias editoras, com diferentes graus de independência, e sob nomes diferentes, desde Frank Black, Black Francis ou Frank Black and The Catholics.
Este último período, a única espécie de banda que Black conheceu para além dos Pixies, é agora alvo de um tratamento de luxo, que constitui uma oportunidade de ouro para descobrir estas pérolas que, por algum motivo, continuam escondidas. Black trabalhou com os Catholics em seis discos: Frank Black and The Catholics (1998), Pistolero (1999), Dog In The Sand (2001), Black Letter Days (2002), Devil’s Workshop (2002) e Show Me Your Tears (2003). E a verdade é que temos aqui o grande filão da sua carreira a solo, aquele que ombreia à vontade (mesmo que o mundo não queira saber) com o legado dos Pixies, que o suplanta aqui e ali, aquilo que justifica a criatividade e a impaciência de um dos génios da pop-rock das últimas décadas.
São estes seis discos, mais um inédito, que conhecem agora uma reedição luxuosa, numa caixa toda bonita: Frank Black and The Catholics: The Complete Recordings traz-nos, assim, sete cd, 132 músicas, cobrindo toda a produção conhecida deste projecto.
Não sendo a primeira incursão pós-Pixies de Black, representou o período de maios estabilidade e de maior produtividade, num tipo que lança mais discos que o Neil Young. Se os primeiros discos a solo de Black oscilavam entre a matriz do som Pixies com coordenadas mais pop, é com a colaboração com os Catholics (que chegaram a visitar Portugal para um caótico e barulhento concerto na Aula Magna) que o músico voltou a encontrar a sua grande veia rock, sobretudo a partir do enorme Pistolero. Foi com os Catholics que a paleta de Black se estendeu, sempre assente no rock de guitarras, mas com espaço para incursões magníficas no country de bom gosto, regressos à surf-music e às tradições da música americana. A grande qualidade destes temas é que tudo é sempre feito com uma mestria pop que tudo transforma em grandes canções, que viciam quem a elas se expõe com alguma intensidade.
É claro que Frank Black, o eterno brincalhão que nunca tentou ser levado a sério fora dos Pixies (e a sua chocante falta de reconhecimento é prova disso mesmo) tinha de, mesmo numa reedição toda catita, lixar um bocado as coisas. Assim, as músicas aparecem por ordem alfabética, ou seja, a caixa não está arrumada por discos originais, mas sim tudo ao molho, de A a Z (Black chegou a ter grandes discussões com o agente dos Pixies,porque de vez em quando apetecia-lhe tocar o alinhamento nos concertos por ordem alfabética). Nada que importe grandemente.
O que temos são 132 canções com C muito grande, e a prova derradeira que era preciso para perceber que quem gosta de rock não pode simplesmente continuar a ignorar este espólio.
Há destaques para todos os gostos, por isso não vale sequer a pena começar. É meter a tocar e deixar ir, direitinho ou em shuffle. Todas as esquinas trarão grandes e boas surpresas. Long live rock n’ rol.