O que é que vocês andavam a ouvir em 1998? Poupando-vos a uma lista do que andava pelas minhas cassetes e cds na altura, posso garantir-vos que eram coisas de gosto mais duvidoso. E muito embora o icónico The Shape Of Punk To Come tenha sido lançado nesse ano, não eram os Refused que eu andava a ouvir.
The Shape Of Punk To Come chegou-me aos ouvidos uns dez anos depois de ter saído, e mesmo assim, soava-me fresco, e mesmo que eu encontrasse naquele disco coisas que ouvia em bandas que seguia religiosamente, aquele som dos Refused era desafiador, eléctrico e dava-me (e ainda dá) vontade de ir para o meio de um mosh pit como poucos.
Como não sou especialmente dramática no que a separações de bandas diz respeito, nunca me preocupei muito com o facto de, aparentemente, não ir ouvir mais um disco dos Refused. The Shape Of Punk To Come é gigante e eu estava satisfeita com isso. Ainda assim, não era possível esconder o entusiasmo e o regozijo quando os Refused anunciaram Freedom.
Entretanto, Freedom foi editado. A sensação que tive quando terminei a primeira audição foi aquilo que eu acho que teria sentido se tivesse feito o ice bucket challenge. “Elektra” é aquele primeiro contacto com a água gelada, em que pensamos que não é assim tão mau e a água nem está assim tão fria. É uma entrada típica dos Refused, e a bem da verdade é o único tema que se safa sem problema deste trabalho. Bom riff logo a começar, cheio de pica. Mesmo sem a genica de uma “New Noise”, dei a desculpa e apliquei a lógica do “a idade já pesa”, e segui, a acreditar que Freedom podia ser uma sucessão de temas como este. Passaram quase 20 anos e se eu não oiço a mesma música de então, porque haveriam os Refused de ter ficado parados em 1998? E a minha esperança ainda foi alimentada durante breves momentos, já que com alguns altos e baixos, “Dawkin’s Christ” segue o mesmo caminho da primeira faixa. Claro que sentimos a falta de Jon Brännström e as guitarras dos Refused perderam muito com a demissão do guitarrista. O som dos Refused em 2015 é muito mais seco, mais vazio, e desenganem-se os que vão à espera de encontrar a energia espasmódica de “Refused Are Fucking Dead”. Velhos tempos!
Menos de meio álbum ouvido e a sensação agora é mesmo de quem levou com um balde de gelo em cima. “Françafrique” é medonha e aquele coro de criancinhas a cantarem-me ao ouvido até me fez doer os ossos. E “Useless Europeans” é aquele arrepio que nos diz que já estamos encharcados há demasiado tempo e que se não formos trocar de roupa, ainda vamos ficar doentes.
Agora que já ouvi Freedom uma série de vezes, preferia que este álbum nunca tivesse saído. A melhor parte deste disco foi mesmo ter-me feito voltar a ouvir The Shape Of Punk To Come e deliciar-me com a genialidade deste disco.
Refused are fucking dead. E nos mortos não se mexe.