Ao terceiro disco, os FIDLAR fazem o seu London Calling, diversificando estilos e instrumentos, ao mesmo tempo que mantêm a irreverência skate punk original.
Os puristas hão-de apedrejá-los pelo putativo sell out mas não têm razão: continuam inventivos e genuínos, sendo de louvar que não queiram repetir o molde garage punk do primeiro disco para o resto da eternidade. Com o balanço mais sincopado de Almost Free, não damos apenas cabeçadas na miúda gira ao lado; somos até capazes de dançar um bocado, maximizando assim as nossas hipóteses de acasalamento. Saudemos, então, a largueza do cardápio, que vai desde o hip-hop apunkalhado à Beastie Boys de “Get Off of My Rock” até ao instrumental groovy com sopros soul do tema-título, com pinta à Tarantino. Quando o melodismo da pop, a genica do punk e o balanço do R&B convergem, temos jackpot.
Porém, o prémio da originalidade não vai para os FIDLAR. Referências todos temos mas os californianos nem se dão ao trabalho de as disfarçar: Hives, Smash Mouth, Black Keys, tudo o que estiver a rodar no Spotify. Mas talvez seja mais um problema da época do que outra coisa. Contam-se pelos dedos as bandas de rock do século XXI que trazem verdadeiramente alguma coisa de novo.
Para os mais hedonistas, não se preocupem: ainda há sexo, drogas e rock’n’roll a rodos. Mas não mandem demasiados amendoins: depois da namorada grávida ter morrido de overdose, Zac Carper já não vê tanto glamour na sua dependência de álcool e heroína. Esta é uma das grandes virtudes de Almost Free: mostrar, com corajosa honestidade emocional, o lado sombrio do party punk. Parece que agora está limpo. Oxalá assim fique por muito tempo. Era porreiro vermos putos tão talentosos continuarem a crescer.