Com uma longevidade com a qual muitas bandas começam a lamentar os seus já distantes anos de ouro, os Yo La Tengo lançaram aquele é provavelmente o seu disco mais duradouro.
Em 1997, os Yo La Tengo completavam treze anos de existência. Há bandas que não duram esse tempo todo e a maior parte das que duram começam, lentamente, a viver à sombra da sua antiga glória. E é por isto que a existência de I Can Hear the Heart Beating as One no percurso dos Yo La Tengo é um pequeno milagre.
Dando continuidade a uma sequência de discos que começou com Painful, o seu primeiro disco para a editora Matador (da qual a banda ainda faz parte), I Can Hear the Heart Beating as One, vê o grupo a expandir a sua palete sonora e a encontrar uma maneira de equilibrar as suas sensibilidades mais melódicas com o seu pedigree noise. O resultado é um dos discos mais versáteis da banda, repleto de canções que, mais de vinte anos depois, são ainda obrigatórias nos concertos da banda, como “Moby Octopad”. A sua linha de baixo brilhante na sua simplicidade, ou o seu descarrilamento para território jazz a meio, mostra uma banda mais madura e com uma maior preocupação em desenvolver o seu som para lá dos constrangimentos de uma formação de guitarra, baixo e bateria (vá, e ocasionais teclados). Por sua vez, o drone espacial da instrumental “Spec Bebop” constitui o coração do disco, expandindo-se entre os assobios de feedback e os devaneios hipnóticos da secção rítmica, garantindo que os seus mais de dez minutos passem despercebidos pelo ouvinte.
Nada disto implica que não exista lugar para indie rock mais convencional: “Sugarcube”, contém todos os ingredientes que fazem um clássico dos Yo La Tengo: harmonias delicadas sobrevoando uma cama de distorção frenética. A música rendeu à banda o seu teledisco mais icónico, no qual os músicos são enviados para a “Academy of Rock” para aprenderem a fazer um teledisco que agrade aos manda-chuvas da editora.
Mas é principalmente nas canções mais contemplativas que se encontram os frutos mais sumarentos do álbum. “Stockholm Syndrome” tem o tipo de melodia paradoxal que parece impossível de ser cantada fora de um quarto mas que merece ser entoada por centenas de pessoas num concerto. A atmosfera caseira também impregna a canção que lhe segue, “Autumn Sweater” o hino de amor de todos os introvertidos. Já o instrumental “Green Arrow”, graças à sua slide guitar saudosa, parece a representação sonora de uma noite húmida de verão, com direito ao som de grilos e tudo.
Os Yo La Tengo sempre foram sobejamente conhecidos por incluírem nos seus discos covers de outros artistas, e até chegaram a fazer álbuns só mesmo com versões suas de músicas de outros. Neste álbum foram rebuscar um clássico dos Beach Boys, “Little Honda”, dando-lhe uma roupagem noise que encaixa como uma luva no conceito do álbum.
I Can Hear the Heart Beating as One leva o ouvinte de encontro a uma banda em ebulição, com uma direção mais expansiva e um foco maior. Os Yo La Tengo lançaram muito boa música antes e depois deste disco mas nenhum desses trabalhos captura o olho da tempestade como este álbum.