5-30 é o nome do novíssimo projecto de três nomes fortes do hip-hop nacional: Carlão aka Carlos Nobre aka Pacman (ex-Da Weasel); o rapper Regula; e Fred (Orelha Negra, Buraka Som Sistema). O primeiro, Carlão, entre o seu estilo habitual de rap e uma voz de canto que ainda soa a tentativa; Regula no seu estilo supersónico de debitar rimas, ginasticando as palavras como se não houvesse limites ao que estas podem fazer; e Fred, habitualmente baterista, que aqui se senta atrás da “máquina”, compondo toda a base sonora, de percussão e não só.
O resultado deste disco de estreia é um mundo próprio que foi criado com grande sucesso e convicção. 5-30 é uma viagem feita de noite, sexo, excesso, violência, luta, arrependimento e força. Se o hip-hop português (e nele boa parte do percurso dos saudosos Da Weasel) tende a ser muito Chelas ou Margem Sul, este disco é, muito, Nova Iorque. E cocaína em vez de ganza e bejecas. É um disco negro, muito negro no som, com uma frieza digital que começa por dar saudades de um sonzinho de banda a sério mas que depois se entranha e se auto-justifica, dando a todo o álbum um tom tenso e cru que faz todo o sentido.
A base musical é relativamente simples mas com soluções imaginativas, e ninguém diria que Fred não faz isto desde criança. Mas o valor acrescentado está nas letras, claro, e na forma decidida como elas são atiradas à rua. É um disco que, melodiosamente, se consome muito bem, mas é também um registo que não faz prisioneiros, não pede desculpa, não tenta fingir um equilíbrio falso. Dá a sensação que as vozes e os autores das rimas escreveram e dizem o que bem querem e bem entendem, doa a quem doer, sujeitando-se a críticas que, felizmente, não os incomodarão minimamente. Isto aplica-se, sobretudo, a Carlão, cujo sucesso nos Da Weasel chegou a limitar a sua linguagem e as suas temáticas, levando-o talvez inconscientemente a justificar-se demasiado, a equilibrar-se demasiado, quando as suas raízes de hardcore e hip-hop de rua reclamavam outras coisas. Mas enfim, essa banda implodiu, Pacman apostou em projectos como o Algodão ou os óptimos Dias de Raiva, e agora anda por estes campos. E este gang soa coeso, soa forte, soa unido: soa como se estivesse preparado para enfrentar quem vier.
Entre as várias participações no disco destaca-se naturalmente Sam the Kid, o prodígio do hip-hop nacional que não sabe estar mal e consegue elevar a já alta fasquia média desde disco.
Um disco fresco, novo, forte. Histórias de noite, de misoginia, de dinheiro, de mulheres falsas e homens fracos. Sexo e violência, num registo de mensagem old school muito mais norte-americano do que seria de esperar.
O hip-hop – e não apenas em Portugal – parece encontrar soluções de criatividade que quebram o padrão repetitivo que enferma alguns outros estilos. E não é por acaso que este disco, e a Sereia Louca de Capicua, estão entre as melhores coisas que 2014 nos trouxeram até aqui. De 5-30 saliento a personalidade muito própria e vincada que este grupo conseguiu logo ao primeiro disco.
Do hip-hop ou não, não interessa: ouçam este disco. Podem odiar sim, mas podem também encontrar aqui uma fiel companhia. Eu sei. Descobri aqui um belo disco.