Reportagens

Explosions in the Sky || Aula Magna

Na consagração dos seus vinte anos, os Explosions in the Sky visitaram um bocadinho de cada um dos seus lugares felizes. Álbuns e canções que foram nossos também e que, com as suas visitas, nos continuam a criar memórias, memórias tão belas como as que compõem estes lugares.

Há sempre alguma incerteza em conferir palavras a uma arte que não as tem. Na música, as palavras são um veículo de expressão para além de serem o fruto da nossa necessidade infindável de querer dar nomes às coisas. E da nossa avidez de desejar que as palavras nos esclareçam sobre os mundos que teorizamos da arte que consumimos. E na sua companhia, desenhamos dias e decoramos sentimentos. As memórias numa cápsula em formato MP3 e palavras que materializam ondas de som em eternidade. Em Explosions in the Sky, os instrumentos são as vozes, e apesar de os títulos das suas canções nos sugerirem os mais distantes e utópicos universos, a sensação que perdura durante todas as escutas é de uma amenidade imaculada.

Duas décadas depois da edição de How Strange, Innocence, merecemos o seu regresso numa excelente ocasião. Para honrar as comemorações, partiram do princípio da ordem cronológica, escancarando as portas dos sentimentos com “A Song for Our Fathers”, depois de um acolhedor discurso de saudação em português. “Somos os explosões no céu”. E não é que foram mesmo? Musicalmente, sempre o são, mas no céu da nossa Aula Magna pintaram-se cores inicialmente mais tímidas, mas cada vez mais sonhadoras. E do choro colectivo de cordas do tema inicial partiram para os ambientes mais exultantes de “Catastrophe and the Cure” e “Yasmin the Light”. E viajando pelo mesmo álbum onde nasceu esta última, seguiram para a tumultuosa e desconcertante “Greet Death”. Como se as guitarras se juntassem num grito comum para nos mostrar o caminho para saber estar aqui. E descobrir, no meio das suas notas, no murmúrio do reverb, a paz da ausência de palavras. Ou as infinitas possibilidades do sentir em “The Birth and Death of the Day”.

A viagem nunca ficaria completa sem algumas obras-primas de The Earth Is Not a Cold Dead Place. “Your Hand in Mine” iluminou todo o anfiteatro de esperança, num aconchego que um final de dia pede. E a sua conterrânea, “The Only Moment We Were Alone”, depois de visitados quase todos os álbuns, ecoou o som da despedida. E a atmosfera, num sonho lúcido que todos os fins mereciam, deixou-se pintalgar por toda essa alegria fatídica. Para, numa consciência livre, podermos dar palavras e sentidos às artes que nos forram a imaginação e continuar então, a sonhar pelo nosso mundo fora.

Fotografia: Francisco Fidalgo

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