Éme e Moxila celebraram o aniversário do seu disco homónimo no Musicbox, longe do conforto do seu “exílio”, mas entre amigos e num ambiente de amor relaxado.
Em março do ano passado, Éme e Moxila, o power couple da Cafetra, lançavam o seu álbum homónimo, trabalho onde fazem a apologia de uma idílica e relaxada vida a dois (e que consta do top Altamont 2022). Passado um ano, juntaram ao rol mais duas canções com o EP Corta Mato e, em jeito de celebração de aniversário/estreia, partiram numa mini-digressão pelo país, digressão essa que passou esta quarta-feira, dia 12, pelo Musicbox em Lisboa. Esta já clássica sala do cais do Sodré, apesar de bem familiar, é, com certeza, diferente do calmo apartamento onde gravaram “Estocolmo 1984”. Ainda assim, a noite de quarta-feira mostrou que o casal não perdeu o talento para sair à rua e enfrentar uma plateia.
A audiência, que estava respeitavelmente composta para uma school night, recebeu calorosamente Filipe, a quem coube fazer a primeira parte. Estávamos entre amigos. Dizendo-se um bocado nervoso e agradecendo o convite aos headliners, Filipe estreou-se a solo com quatro canções acompanhadas só à guitarra e com poemas simples sobre a espuma dos dias. Para o fim da primeira parte chamou ao palco Moxila, que apareceu munida do seu cavaquinho, e juntos interpretaram algumas canções da primeira banda de ambos, Sr Eduardo Urso, num comeback muito aguardado pelos “completistas do indie português”, como disse Éme no Twitter. “Os Vegetais Comem Pessoas Na Salada” e “Os Cereais Não Choram Mais”, de 2012, foram alguns dos hits que os velhos amigos tocaram antes de chamarem ao palco o elemento que faltava, Éme, “o penetra”, que se juntou a eles para uma última canção vintage.
Terminada a primeira parte era hora do evento principal da noite, mas em palco não se alterou grande coisa. Éme assumiu a guitarra que toca na maior parte do disco, Moxila manteve-se no cavaquinho e Filipe ficou a apoiar os amigos acompanhando “Estocolmo 1984” com um adufe, que Éme brincou estar ali porque se queriam fazer de convidados para o festival da canção. Não cantaram “Bem Bom”, mas a amizade e cumplicidade entre todos os que estavam em palco e muitos dos membros da plateia não deixou de transparecer. Afinal, como diz Éme em “Autocarro”, “por muito que eu toque toco só p’ós amigos”. A nova canção foi perfeita para abrir as hostilidades e deixar toda a sala a cantar “Vai Mamede, vai” evocando o incompreendido atleta Fernando Mamede. Seguiram-se “Exílio”, ode à vida sedentária, “Autocarro e Assalto”, canção onde Éme pisca o olho a “Tá Na Hora da Passa” de B Fachada quando menciona “os refrões todos que faltam para beefar o tio B” (são 40).
Trabalhar com a cara-metade nunca é tarefa fácil e o mundo da música não será exceção, mas Éme e Moxila conseguem ter uma dinâmica muito doce sem nunca deixarem de ser profissionais. Nas várias trocas de instrumentos que foram fazendo, entre guitarras, cavaquinhos, flautas e melódicas, Éme manteve-se brincalhão (“se vocês me vissem a solo manos, sou uma estrela de rock”) e conversador (mesmo quando não tinha grande coisa para dizer) e Moxila mostrou-se sempre mais despachada e com vontade de tocar. Era para isso que lá estávamos afinal. O serão continuou com a também nova “Sem Nome”, seguida de “Zequinha”, uma aparição de Domingo à Tarde, disco de 2017 de Éme (onde na verdade já se ensaiava esta colaboração com Moxila). Ouvimos ainda “Voltar da Escola” e “Montanha” antes de Éme anunciar uma canção nova, “Disco Tinto”, que será também o nome do próximo disco. Perto do fim, houve ainda tempo para “Não é o que parece”, “Relaxado” e “Lilos”, estas últimas provavelmente as faixas mais bonitas de Éme e Moxila e que não desiludiram na sua interpretação ao vivo. Já em cima do “recolher obrigatório” e feitos os agradecimentos finais a todos os envolvidos e à audiência pela atenção, mesmo sendo uma noite a meio da semana de trabalho (“trabalhar não é prisão”), fecharam a festa com “Puxa a Patinha”, excelente faixa dançante de Domingo à Tarde.
Num mundo com cada vez mais razões para estarmos deprimidos é importante existirem estrelas rock como Éme e Moxila, a fazer música baixinho e a cantar o elogio da vida simples, pacata e satisfeita, mesmo que ainda estejam a lidar com as suas dores de crescimento e a perceber como é que se é adulto (quem não?). O concerto com que nos presentearam no Musicbox foi uma bonita celebração do amor e da amizade onde, por um bocadinho, fizemos todos parte do concílio de Éme e Moxila. Esperamos que permaneçam assim, a cantar este amor relaxado, por muitos e longos anos.
Fotografias: Marcela Janeiro Pereira