Ofuscado pelo destaque dado ao último trabalho dos Real Estate, Matt Mondanile, que finalmente decidiu sair do laboratório e arrumar no alçapão os tubos de ensaio, foi, quanto a mim, pouco reconhecido pelo seu último The Flower Lane.
Inicialmente desenhado como um projecto de quarto de residência de estudantes, o trabalho a solo do guitarrista Matt Mondanile (como Ducktails) veio contrastar com a pop mais tradicional e contida da sua banda mãe, os Real Estate. E embora Mondanile use basicamente os mesmos pedais na guitarra que usa nos Real Estate, não quer isso dizer que a música saia igual.
Os seus primeiros lançamentos mostram um jovem músico extremamente apegado a linhas desengonçadas de guitarra suspensas por electrónicas cruas e pedregosas de padrões repetitivos. E até mesmo a participação especial de Polar Bear em 2011, não sugeriu qualquer alteração à estética lo-fi exaurida. As músicas ficaram um pouco mais curtas, mas ainda assim em grande parte errantes.
The Flower Lane, por outro lado , é um álbum divisor, mostrando um Mondanile muito mais interessado em cada aspecto das suas composições para depois encantar na produção de instrumentação. Ajudado pelos amigos Big Troubles como a sua banda de apoio, bem como a ajuda vocal de Madeline Follin dos Cults, o som neste álbum é definitivamente o de um conjunto completo, e não mais uma demo de quatro faixas. Baseando-se numa ampla gama de influências pop introspectivas, The Flower Lane espelha, de forma categórica, fragmentos de bandas indie de coração intencionado como Felt ou Durutti Column, chegando mesmo a desviar-se para o funk, território espaçoso por onde algumas bandas indie se abrigaram nos anos 80, caso dos Style Council. Mas as reminiscências de Everything But The Girl, Prefab Sprout e House Of Love são óbvias. Tudo junto, seis bandas britânicas, nenhuma do mundo novo. Coincidência? Não. Apenas boa Pop. Aliás, tão boa que nem parece de agora. Anacrónica e apaixonante, faz-nos voltar à meninice da adolescência leve e livre.
Em direcção a um universo mais sofisticado e contemplativo, The Flower Lane é uma gratificante e agradável experiência para o ouvido. A quantidade de crescimento face aos trabalhos anteriores é impressionante, deslocando o projecto de territórios nebulosos para composições mais polidas e com volumes de pureza jazz. Um disco delicioso para ouvir por muitos mais anos.