Os Buraka começaram por ser grandes no saudoso Clube Mercado, ali entre o Bairro Alto e a Praça da Alegria, clube que deixou saudades. Quem lá esteve não esquece: eram noites quentes, pesadas, computadores falhavam, o caos abundava. E, no entanto, algo novo e refrescante surgia. Partindo do kuduro, os Buraka Som Sistema eram, em 2006, a “next big thing” que todos adivinhávamos que se transformasse num fenómeno. Mas nem no sonho mais molhado dos seus músicos, acredita este que vos escreve, era de esperar que o fenómeno chegasse onde chegou.
Concertos e DJ sets em todos os continentes, países em todo o lado, festas, festivais e festinhas. Vimos os Buraka em Berlim, em Bruxelas, a encher salas, a espalhar graciosidade e caos, com pinta, classe e, importante, canções: “Hangover (Ba Ba Ba)”, “(We Stay) Up All Night”, “Kalemba”, “Yah”, e tantas outras, são apelativas e pungentes, em Lisboa, Luanda ou em qualquer lado do mundo.
Buraka, fresco nas lojas, é o terceiro álbum de originais dos Buraka Som Sistema. Sucede a Black Diamond e Komba e traz boas e más notícias. As más, ou menos boas, dirão os otimistas: este não é um álbum tão bom como os anteriores. Tal seria trágico se o menos bom representasse a falência criativa dos Buraka. Mas não – mesmo um disco menor e não tão marcante como é este “Buraka” dá uma sova na concorrência e tem meia dúzia de momentos de glória, atestado de validade e pertinência de um grupo que muitos temeram fugaz e ovni pontual, mas o tempo e os seus méritos têm revelado como peça central da melomania portuguesa do século XXI.
Os Buraka Som Sistema de 2014 são globais e onde antes havia 100 para os ver e ouvir, hoje há, talvez, 100 mil. Sem pressões e desprendidos como sempre, continuam a sacar temas como um amolador trata das suas facas: cada momento sonoro dos Buraka é inesperado, por vezes aparentemente amador, mas inevitavelmente gera reações, muitas vezes entre o amor e o ódio. E quase sempre com a anca a abanar.
“Stoopid”, “Parede” ou “Vuvuzela (Carnaval)” são alguns dos grandes momentos de Buraka. Serão o topo da carreira dos Buraka Som Sistema? Não. O grupo já fez melhor e, vamos lá ser diretos, é capaz de maior inventividade. Mas o que é que isso interessa quando uma menina bonita – ou um rapaz garboso, dirão as meninas – nos convida para dançar e bailar ao som deste kuduro futurista e moderno?