
A noite começou por volta das 22h00, com um concerto de abertura muito especial: The Weather Station, projeto folk da canadiana Tamara Lindeman, que em 2015 editou (na opinião deste que vos escreve) um dos mais delicados discos do ano. Surgiu num duo, ela na guitarra elétrica e o belga Erik Heestermans (que já esteve na formação ao vivo do guitarrista e compositor Steve Gunn, por exemplo) a acompanhá-la na bateria.
Foi um concerto intimista, muito bonito de acompanhar para quem é fã, mais morno porventura para quem desconhecia a música da canadiana e estava pouco receptivo a uma paisagem sonora tão delicada e confessional. A páginas tantas surge Francisca Cortesão (Minta & the Brook Trout, They’re heading West) em palco, para cantar com Tamara Lindeman o tema “Came so easy” (de All of it was mine, disco de 2011). As duas conheceram-se depois dos They’re Heading West terem convidado a canadiana a cantar com eles, na Casa Independente, convite a que esta acedeu. E só ouvir um tema tão bom, cantado por duas vozes tão bonitas, teria valido por todo o concerto. Para nosso regalo, foi mais do que isso, já que todo ele foi bom.
De The Weather Station passámos a Damien Jurado, que tem andado em digressão por toda a Europa (com The Weather Station atrás) e que chegou ao Musicbox, em Lisboa, com um magnífico novo disco, Visions of the Land. Trouxe consigo uma banda numerosa (antes, ainda em palco, a canadiana havia já avisado que “eles vão usar mais estes instrumentos”), que incluía guitarra acústica (tocada pelo próprio), guitarra elétrica, baixo, bateria e sintetizadores. Do tom geral do concerto podemos arriscar uma frase: o psicadelismo passou por aqui.
Ainda que não esgotando os temas no seu último álbum (pelo contrário, ouviram-se alguns temas mais antigas da já longa carreira do norte-americano, iniciada há sensivelmente 20 anos), esse foi o tom geral do espetáculo: Damien Jurado apresentou a sua nova folk, mais assombrada e psicadélica que no longínquo passado, numa mistura de sonoridade delicada (o seu talento para a construção de melodias e de canções sempre esteve lá) com uma outra mais espacial, de maior experimentação (e orquestração) instrumental, onde a banda levava a música a libertar-se do seu criador e a viajar até outras paragens, em mistura híbrida que cruzava o folk, o blues e o psych-rock no mesmo caldeirão gentil. Foi bom, muito bom.
Fotos de Duarte Pinto Coelho






















