Depois da boa surpresa do álbum de estreia, os Clã não deixam dúvidas com o sucessor, Kazoo, um registo mais assumidamente pop-rock e cheio de grandes hinos.
O “difícil segundo disco” tornado fácil. É uma boa forma de descrever Kazoo, o trabalho que os Clã apresentaram ao público depois de, eles próprios, se terem tornado conhecidos com o disco de estreia.
Se LusoQualquerCoisa, de 1996, nos mostrou uma banda nova, fresca e talentosa, que percorria os passos da soul com toques de funk e jazz popularizados por cá pelo fenómeno conterrâneo Pedro Abrunhosa, apenas um ano depois os Clã vestiam novas roupas. Se o primeiro álbum continha grandes canções e uma variedade de estilos, aqui podemos encontrar um trabalho ligeiramente mais coerente, ainda que sem abandonar totalmente a tentativa de fazer exercícios diferentes entre si. De um disco para o outro ficou aquilo que, na verdade, mais interessava: tal como um ano antes, os Clã ofereciam-nos novamente grandes canções. Este é o disco em que abraçam assumidamente o registo que mais frutos lhes deu, o pop-rock, garantindo hinos que perduram até hoje.
As canções, meus amigos, é isso que fica. É ligarmos a rádio e sermos surpreendidos por um tema que não ouvíamos há anos e que nos volta a conquistar, a levar lá, a emocionar. E se os Clã nunca foram apenas uma banda de singles (e cada vez o são menos), foram essas malhas maiores que a vida que os levaram à consagração pelo grande público.
Kazoo é a casa de temas maiores como a enérgica e inteligente “GTI (Gentle, Tall and Inteligent)”; a emoção que ainda hoje nos arrepia a pele de “Loja de porcelanas”; a inacreditável “Problema de Expressão”, ainda hoje uma das mais bonitas e intensas canções de amor da música portuguesa; a leveza de “Abas do vento”; ou a sedução de “Sem freio”, com o seu baixo sexy a movimentar uma canção pop perfeita. Tudo servido pelas letras sempre inteligentes de Carlos Tê, que aqui dá um passo em frente na colaboração com a banda e assume todas as palavras.
Quando lançam Kazoo, os Clã já não eram desconhecidos a pedir atenção, e sim um projecto que muita gente tinha já debaixo de olho. Depois do disco de estreia, eram uma forte promessa, confirmada aqui com toda a convicção. Este foi o álbum que os levou para palcos maiores (como o da Expo 98) e para grandes digressões, incluindo passagens pelo estrangeiro.
Os Clã tinham vindo para ficar. Felizmente.