O nosso tuaregue preferido está de volta. Poucos anos passaram desde que o conhecemos, meio tímido, a tocar numa pequena sala junto ao Tejo. Desde então, já se tornou presença regular em palcos nacionais, passou por grandes festivais, consolidou o seu nome na cena internacional – e está de volta com novo disco.
Bombino é nesta altura um dos maiores embaixadores da música do Sahara no Ocidente. Deu o primeiro grande passo com Nomad, disco produzido por Dan Auerbach dos Black Keys, que colocou definitivamente o nome de Bombino debaixo dos holofotes. Extensas digressões, na Europa e Estados Unidos, ajudaram a firmar esta identidade – é ao vivo que a força da música de Bombino se manifesta na plenitude.
Depois da experiência de Nashville, com Dan Auerbach, Bombino escolheu para produtor Dave Longstreth, dos Dirty Projectors, e passaram várias semanas numa quinta, nuns montes perto de Woodstock, a gravar no meio da natureza.
Bombino já admitiu que a produção de Auerbach foi demasiado ‘impositiva’, o Black Key já tinha uma ideia muito definida do que queria para Nomad e não deu para fugir muito a isso. Agora, com Longstreth, foi quase o oposto. Mais relaxado, com o produtor a deixar fluir a energia dos músicos e, acima de tudo, centrar todo o processo na guitarra de Bombino.
Esse é o ponto central nesta equação. Bombino aprendeu a tocar sozinho – inspirado nalguns mestres, é certo – mas a verdade é que isso lhe dá uma liberdade de movimentos pouco habitual, com um tocar bastante versátil, que congrega o melhor da tradição ancestral centro-africana e os ensinamentos da escola ocidental (de Jimi Hendrix a Santana). Como a banda base é um trio (baixo, bateria e guitarra), Bombino é ao mesmo tempo guitarra ritmo e solo.
O novo disco, Azel, pega em Nomad e alarga a palete de cores. Onde antes se ficava pelo blues-rock do deserto – entre o delta do Mississipi e as planícies do Sahara – agora faz outra ponte aérea, entre África e as Caraíbas.
Bob Marley também é um dos inspiradores de Bombino, que lhe presta homenagem num género a que chama “tuareggae”, em canções como “Timtar” ou “Iyat Ninhay/Jaguar”, com um sabor tropical africano, saídas directamente de um bairro tuaregue de Kingston.
Nas restantes oito canções, Bombino vagueia pelo já habitual blues tribal, rock vigoroso com a bateria a levar tudo à frente, e há ainda espaço para uma ou outra quase balada, mais acústica, feita para ser cantada à volta de uma fogueira numa noite de céu estrelado.
Constante, ao longo de todo o disco, as guitarras dedilhadas, urdindo mantras hipnotizantes, guiados pela voz de Bombino que aqui soa como mais um instrumento. Ele canta num dialecto em que não entendemos uma única palavra, o que acaba por tornar a voz num elemento melódico, afastando quaisquer intenções interpretativas.
Azel é mais um excelente disco de Bombino, que cada vez mais se afirma como a voz exótica do Deserto que está a conquistar o Ocidente.