Os Linda Martini já não são “Putos Bons”, como nos dizem numa das cantigas do novo Sirumba. Em 2016, os Linda Martini são um pequeno monstro rock – consolidado, adulto, máquina bem oleada que cruza velocidade rítmica com serenidade melódica.
Por partes: Sirumba, agora editado, é o quarto álbum dos Linda Martini, que se estrearam no formato longa-duração em 2006, com Olhos de Mongol. Antes, depois, e – adivinhamos – no futuro, há também EPs mais exploratórios que devem ser tidos em conta na altura de analisar a evolução do grupo.
Se, a começo, a velocidade e ferocidade eram o que mais seduzia nos Linda Martini – mesmo que a serenidade contemplativa de “Este Mar” seja dos momentos mais marcantes do início de carreira -, em 2016 o que ouvimos em Sirumba é menos impactante e demolidor, mas a troca de ritmo resulta num cliché reconfortante: os Linda Martini são, agora, uma banda adulta, um porto seguro, garantia absoluta de boas canções envoltas em curvas e contracurvas. Embaixadores de uma certa nação alternativa mas, cada vez mais, uma banda sem receios de crescer. O single “Unicórnio de Sta. Engrácia” havia dado o mote: este é um grupo que ainda gosta de acelerar e lembrar o hardcore, mas que não hesita em parar, trazer instrumentos de sopro para a canção, mudar e surpreender.
O jogo da sirumba é para crianças, mas os Linda Martini são cada vez mais um festim para adultos fruírem – mas onde todos são bem-vindos. Vimo-los já em todas as salas de Lisboa, da Zé dos Bois ao extinto Clube Mercado, do Santiago Alquimista a vários espaços ao ar livre, até ao Coliseu dos Recreios, momento ainda fresco na memória dos presentes. Para quem acompanha as bandas dos quatro guerreiros de Queluz desde os (saudosos) concertos nos liceus da linha de Sintra, testemunhar o crescimento dos Linda Martini é ver a promessa virar certeza e, em 2016, garantia absoluta e marca fundamental para se observar – de fora e de dentro – o rock português do presente.
Sirumba só não vai ser globalmente aclamado como o melhor álbum dos Linda Martini porque os primeiros Olhos de Mongol e – fundamentalmente – Casa Ocupada não são meninos para se secundarizar facilmente. Mas a escuta das últimas três canções da novidade é mais do que suficiente para fazer deste álbum um pedaço fundamental na carreira dos Linda Martini: com efeito, “Comer por Dois”, “Dentes de Mentiroso” e “O Dia Em Que a Música Morreu” são um género de resumo Europa-América do que são os Linda Martini de hoje e de sempre (para sempre?). Tudo bom: fulgor instrumental, pausas, acelerações, uma letra que serve o motor de arranque absoluto que é a base rítmica da banda – eis os Linda Martini em ponto de rebuçado e a despedida só não custa mais porque já sabemos que até já não é adeus.