Em Plastic Letters prevalece um som mais agressivo, se comparado ao do primeiro registo, mais rockeiro, mas ainda muito banda de putos de garagem.
Richard Gottehrer, que já havia produzido o primeiro disco da banda, voltou a trabalhar com os Blondie em Plastic Letters, álbum de 1977. Pelo caminho ficou Gary Valentine, que mesmo assim contribuiu com a saborosa “(I’m Always Touched By Your) Presence, Dear”, canção ainda hoje marcante para os fãs mais antigos da banda. Reduzidos a apenas quatro elementos, embora nos créditos já por lá apareça Frank “The Freak” Infante – futuro membro do line up mais conseguido e conhecido da banda –, os Blondie abraçaram o seu segundo longa duração com a certeza de que o futuro lhes sorriria (isto mais não é do que uma convicção minha, obviamente), o que na verdade começou, de facto, a acontecer. A culpa é da versão de uma antiga canção de Levenson, tocada por Randy & The Rainbows, intitulada “Denise”. Os Blondie mudaram-lhe o género e tornou-se “Denis”, tema que ficou histórico, uma vez que, com ele, a banda de Debbie Harry passou a ser conhecida no mundo inteiro, fazendo sucesso e furor em toda a parte, exceto nos seus States, o que aconteceria apenas com o disco seguinte. Debbie Harry alterou a letra original de “Denise”, e atreveu-se a incluir e a cantar alguns versos em francês, dando a “Denis” um charme próprio e inconfundível.
Para além das duas canções já citadas (a de Valentine e a dos Randy & The Rainbows transformada pela banda), Plastic Letters tem outros ótimos momentos, como “Fan Mail”, “Bermuda Triangle Blues (Flight 45)”, “I Didn’t Have The Nerve To Say No”, ou “Love At The Pier”, por exemplo. Este bom punhado de temas tornou a banda mais confiante, e o mundo mais atento ao fenómeno que aconteceria no ano seguinte, e que catapultaria os Blondie para um lugar impensável e bem distante daquele que os viu nascer. Com esse seu terceiro trabalho, Debbie, Chris e companhia atingiriam o céu, mas isso ficará para o post seguinte deste Especial Blondie.
Por agora, voltemos a Plastic Letters, e façamos uma referência à interessante capa do disco (fotografia de Phillip Dixon) que mostra a banda junto de um carro da policia novaiorquina. Debbie Harry está sentada no pára-choque dianteiro, de cara meio coberta pelo seu cabelo loiro, num vestido rosa que tanto gostei de ver envergado noutras fotos promocionais da altura, se é que me faço entender… Chris Stein, elegantemente trajado de preto, faz pose de galã, enquanto Jimmy Destri se encontra sentado ao pé do pneu da viatura. Por fim, Clem Burke, o genial baterista do grupo, no seu habitual ar à lá Keith Moon, olha para um qualquer lugar distante, enquanto todos os outros elementos olham para nós em atitudes e poses tão marcadamente diferentes. À esquerda da imagem, um letreiro regista Plastic Letters, o nome dado ao disco. Esta capa, sempre a vi como uma espécie de metáfora da diversidade interna que a banda não tardaria a revelar, bem distante da conformidade visual exposta na artcover do seu primeiro longa duração.
Em Plastic Letters prevalece um som mais agressivo, se comparado com o do primeiro registo, mais rockeiro, mas ainda muito banda de putos de garagem. Sem que soubéssemos, este foi o disco que marcou o fim de uma banda à procura de um rumo e de um som próprios. Nunca mais os Blondie fariam canções como “I’m On E”, “Love At The Pier”, “Youth Nabbed As Sniper” ou “Detroit 442”, todas elas honestas e ingénuas, reveladoras de um registo algo descuidado, mas completamente recheadas de um indisfarçável charme. Gosto muito de Plastic Letters. Está longe de ser um disco perfeito, mas ainda hoje lhe reconheço qualidades. Muitas. No fundo, as qualidades a que me refiro, vão manter-se em todos os discos da primeira fase de vida dos meus adorados Blondie: canções de génio, e isso é já tanto, que é quase tudo.