De toda a discografia dos Blondie, este é o único álbum que nunca consegui digerir completamente. Ainda hoje tenho alguns “mixed feelings” sobre The Curse of Blondie. Foi necessária uma espera de quatro anos para que a banda norte americana lançasse o seu oitavo trabalho de longa duração. Foi difícil e conturbada a feitura do disco, daí uma das possíveis razões do nome que lhe foi atribuído. Segundo consta, depois de uma produção que já ia longa e demorada, a única demo existente foi perdida num aeroporto inglês, pelo que tudo teve de voltar à estaca zero. Até mesmo o produtor foi mudado. Craig Leon, que havia produzido o anterior No Exit, foi substituído por Steve Thompson, exceção feita à produção da canção single do disco, a mais que dançável “Good Boys”, a cargo de Jeff Bova. Lembro-me de ler, numa entrevista feita à banda, e a propósito do título do disco, uma resposta de Debbie Harry que o justificava lembrando a personagem Rupert Pupkin, do filme “The King of Comedy” (de Scorcese), interpretada por Robert De Niro. Nesse filme, Rupert Pupkin sentia que a vida deveria ser entendida no sentido de transformar todas as coisas negativas, que inevitavelmente vão acontecendo a cada passo, em coisas boas, aproveitando-se e vivendo-se satisfatoriamente a ironia de todo esse processo. Debbie sabia do que falava, e os restantes elementos dos Blondie também sentiam que essa ideia tinha muito a ver com todos eles.
Estávamos, então, em 2003. The Curse of Blondie era o primeiro disco da banda no novo século que nascia, e o oitavo que gravavam desde a sua formação. O line up mantinha-se desde No Exit: Debbie, Stein, Burke e Destri. No entanto, percebia-se que iam ganhando peso e destaque alguns dos músicos que já os acompanhavam havia algum tempo, como Paul Carbonara e Leigh Foxx, futuros membros oficiais da banda. O disco tem pouco menos de uma hora de duração, e isso sempre me pareceu não jogar a favor do álbum. Não pela extensão temporal em si mesma, mas pelo facto de The Curse of Blondie incluir algumas canções que nada de interessante trazem ao histórico manancial de grandes músicas a que os Blondie sempre nos habituaram. Temas como “The Tingler”, “Shakedown” ou “Desire Brings Me back” e “Songs Of Love” estão francamente a mais num disco que ainda hoje me parece desequilibrado e incaracterístico. Há, mesmo assim, canções francamente acima do nível de esquecimento a que votei as anteriormente referidas. Lembro, por exemplo, “Good Boys”, mas sobretudo “Rules For Living” e “Hello Joe”, homenagem bem sucedida ao malogrado amigo de sempre Joey Ramone, em cuja letra se pode ler (ou cantar) “hey ho, hola Jo” a lembrar o icónico “hey ho, let’s go” do eterno hino “Blitzkrieg Bop”. Também as há medianas: “Golden Rod”, ou “End To End” cumprem, mas pouco mais do que isso. Os Blondie pareciam querer esticar ao máximo os géneros musicais das suas composições, e fazer assim, deste The Curse of Blondie, um álbum para todos os gostos. Terão acertado para muitos milhares de ouvintes, mas não totalmente para mim. Há até, pasme-se, uma canção que se avizinha descaradamente da tradicional música japonesa, e acaba mesmo por ser uma das mais interessantes e inusitadas canções que a banda alguma vez levou a cabo: “Magic (Asadoya Yunta)”. E, como um mal nunca vem só, não posso deixar de me referir ao desatre que é a capa do disco. Desajeitada, quase ao jeito amador de um qualquer curioso de photoshop, o trabalho de Robert Roth (fotografia e direção de arte) não deixa saudades, para já não falar da ainda mais desprezível capa do single “Golden Boys”, que segue, para pior, a linha estética da capa de The Curse of Blondie. Uma curiosidade, já agora, a propósito desse único single do disco, é a inclusão de Brian May nos créditos da canção, uma vez que Debbie Harry queria usar uma letra similar à (detestável) canção “We Will Rock You”, dos (também detestáveis) Queen, num segmento de “Golden Boys”. Nesta última lê-se “You got me on your face / A big disgrace / Shakin’ your feathers all over the place” e na da banda inglesa diz-se “You got mud on your face / You big disgrace / Kicking your can all over the place.” Enfim, nada bateu muito certo no regresso dos Blondie, após o anterior No Exit. No entanto, alguma crítica incensou o disco, afirmando ser um regresso ao melhor passado do conjunto nova iorquino. A razão desse particular entusiasmo continua a ser um mistério para mim.
Queen,”detestável”… Gosto musical é mesmo um conceito relativíssimo,eu não conheço os álbuns da banda,não posso dizer nada,a não ser destacar a voz fenomenal do vocalista.