Gosto muito de música brasileira, desde os grandes clássicos aos modernos, e quanto mais conheço mais gosto. E, entre todas as bandas actuais do “país-irmão”, tenho O Rappa acima de todos.
Conheço-os já há uns valentes anos. Costumava frequentar a “Império do Som”, uma loja de cds e discos em segunda mão que, creio, ainda existe, no Centro Comercial de Carcavelos, a minha terra. O dono é o Paulo, um louco alucinado que foi punk e viveu nas ruas de Amesterdão. Sempre que o visitava, pedia para ele meter um ou outro disco cuja capa me chamava a atenção, e foi assim que conheci esta banda. (Já agora, quem quiser comprar cds a 5 euros e conhecer uma personagem do camandro, visitem a loja, vale a pena). Esse disco, que ouvi então, era o Rappa Mundi, de 1996, e fiquei logo agarrado. Afinal, não era rap, ao contrário do que o nome indicava. Era, sim, uma mistura riquíssima de rock, funk, reggae, dub e algum pop, que me agradou de imediato. Comecei então a tentar arranjar todos os seus discos, e todos eles me agradaram. Até ao penúltimo disco, 7 Vezes, tão bom, mas tão bom que se tornou num dos discos da minha vida. Nesse disco, encontraram o equilíbrio perfeito entre todos os elementos do seu som, com umas pitadas de electrónica (scratch, etc) e composições inspiradíssimas. Cheguei a vê-los (curiosamente num pavilhão em Carcavelos), e pude constatar o fenómeno de popularidade que são junto da comunidade brasileira a viver entre nós.
Agora sim, desculpem o incómodo, vamos à crítica a este Nunca tem fim.
É um belo disco, mais um belo disco d’ O Rappa. A fórmula vencedora de 7 Vezes, de 2008, continua bem afinada. Há, aliás, várias músicas neste disco que poderiam fazer parte do alinhamento daquela obra-prima. As letras, essas, continuam muito fortes, e cada vez mais directas, passando uma mensagem de esperança e de luta pela espiritualidade e pela melhoria das condições de vida dos brasileiros. Uma das músicas, “Vida Rasteja”, foi mesmo usada pela banda para, numa mensagem vídeo no seu site, apoiar os recentes protestos no Brasil, ainda que apelando, sempre, à não-violência. O refrão diz “Se começar foi fácil, difícil vai ser parar”, dirigindo-se aos manifestantes e às autoridades. Outro dos destaques do disco é “Anjos”, o primeiro single e um dos momentos mais inspirados da carreira d’O Rappa. E é uma boa porta de entrada no som típico da banda, bem como na sua habitual mensagem de força e de fé, pela voz e pelas letras de Falcão, o líder da banda. Para um som mais funk e com uma letra igualmente muito bem escrita, escute-se “Autoreverse”, para comprovar o que digo.
São 10 músicas que entram à primeira, cujo swing nos prende de imediato e que sustentam um óptimo disco. As únicas críticas que posso fazer é que, aqui e ali, a produção é demasiado, com pormenores sonoros, camadas de efeitos e de pequenas surpresas que, de vez em quando, podem cansar. E o facto de, nas 10 músicas, uma ou duas não ficarem para a história, embora estejam, claramente, longe de serem más.
Ah, e só não estou a dar triplos mortais encarpados é porque este Nunca tem fim sucede a um disco, esse sim perfeito, chamado Sete Vezes.
Em suma, um disco que tenho ouvido repetidamente, que recomendo entusiasticamente. E, depois de o consumirem, vão ouvir o anterior, que consegue ser ainda melhor.
“A fé na vitória tem de ser inabalável” – O Rappa dixit. E mai nada.