Será exagero dizer que a melhor coisa deste disco é Alison Mosshart?
Talvez, mas este que vos escreve tem uma paixão desmedida por essa mulher e só a presença dela já chega para seduzir. Talvez seja exagero, porque este álbum vale pelos Cage the Elephant em si. Ainda assim, o simples facto de ter uma música cantada por Alison (The Kills, The Dead Weather) é ouro. Nem é que a música que ela canta seja a melhor do disco, mas tê-la em estúdio já é revelador de onde estão e quem são os Cage the Elephant.
Já não são uns miúdos que se juntam para fazer rock apunkalhado, veloz, adolescente, em tudo o que isso tem de bom. Em 2013, os Cage the Elephant estão à beira dos 30 anos, mais estabelecidos. O vocalista, Matt Schultz, saíu pela primeira vez de casa dos pais, arranjou casa própria, virou até maníaco-compulsivo na tarefa de decorar essa sua casa. Depois de quase 5 anos em digressão (desde que editaram o primeiro disco, homónimo, em 2008), os cinco músicos tiveram finalmente algum tempo para descansar. Foi daí que resultou Melophobia. E é assim que nos entra pelas orelhas adentro. Os Cage the Elephant mantém o vigor rock da adolescência, mas agora fazem música com outra substância. Continuam lá as melodias que não nos saem da cabeça (tipo esta ou esta, do disco anterior), mas agora sustentadas por uma base mais sólida. Comparando com os álbuns mais antigos, o que eles retiraram de frenético e urgente, acrescentaram em serenidade e intensidade.
O crescimento destes rapazes vê-se também no uso que dão aos instrumentos que têm à frente – já não servem só para descarregar raivas ou euforias, são objectos a explorar atenciosamente. Essa exploração vai aparecendo algumas vezes ao longo do disco, geralmente tímida, mas mostra que eles têm vontade de continuar, e nós ficamos com ainda mais vontade de ouvir o próximo álbum dos Cage the Elephant.
Mas ainda estamos com Melophobia, ou medo da música, e este é um grande disco, o sempre definidor terceiro disco de uma banda. Esta regra de três simples é a que separa os falsos dos genuínos – e os Cage the Elephant estão definitivamente do lado dos genuínos. Têm seguido um trilho consistente e coerente, e apesar de terem uma grande margem de engrandecimento, este seu terceiro disco já é aquilo a que se pode chamar um grande álbum – com descargas de pura energia rock, momentos mais introspectivos e passeios de experimentação instrumental, e às vezes, tudo isto dentro da mesma canção. Os anteriores (Cage the Elephant, de 2008 e Thank You, Happy Birthday, de 2011) eram belos discos, bons registos, mas este conjunto de 10 canções é um grande álbum.