As maravilhas da net têm destas coisas. O novíssimo disco dos of Montreal ainda nem sequer saiu e já podemos ouvi-lo e escrever sobre ele. É que aqui no Altamont ninguém dorme em serviço, e quando as novidades são melhor do que mel, cá estamos nós para vos adocicar os ouvidos. Dá pelo nome de Lousy With Sylvianbriar, e é mais um episódio sonoro digno de destaque numa banda que já por cá anda há anos suficientes para ter a admiração e o reconhecimento do mundo inteiro, coisa que, infelizmente, não tem. Não nos lamentemos em demasia, no entanto. Bem melhor do que lamentos é ouvir este novo trabalho da banda de Athens, Georgia. Numa primeira aproximação ao disco, facilmente se constata uma ligeira transformação sonora em relação ao som mais típico da banda. Este parece ser um trabalho mais tranquilo, sem a prevalência das excentricidades pop que tão bem sabem fazer, menos psicadélico, embora esses traços de identidade ainda se façam notar, e ainda bem. Continuamos a escutar um pouco de Beatles, um pouco do glam de Bowie, do funk de Prince, tudo misturado pelas mãos de Kevin Barnes, num registo identitário bem próprio, mesmo assim, mas em quantidades mais dietéticas. As canções dos of Montreal são diferentes das canções das outras bandas que por aí andam e que tentam ser como eles nas experimentações, no equilíbrio entre géneros, nas melodias tão trabalhadas e complexas. Enfim, são melodias únicas, de facto. No blog do site da banda podemos ler que a gravação de Lousy With Sylvianbriar foi completamente caseira, e as canções que dele fazem parte foram escritas num período de isolamento passado em São Francisco. Logo numa primeira audição percebemos bem as diferenças entre este novo disco e o anterior Paralytic Stalks. Segundo a banda, as maiores influências de agora surgem de nomes como Neil Young, Grateful Dead e Flying Burrito Brothers, o que já quer dizer algo em relação ao som final do mais recente of Montreal. O mesmo blog ainda nos informa sobre a influência da escrita de Sylvia Plath (atente-se no título do álbum) nas letras destas novas canções, o que a ser verdade não é coisa que se possa desdenhar, assim o talento de escrita dessas lyrics se aproxime da qualidade dos textos da poetisa norte-americana. Tenho de estar mais atento ao que é cantado para ter opinião sobre o assunto, embora a forte letra de “Colossus” me pareça bem próxima do tom dos poemas da autora de The Colossus and Other Poems, título de 1960. As influências são mais que muitas, como se vê.
Os onze temas de Lousy With Sylvianbriar resultam em pouco mais de 45 minutos de verdadeiro talento. Na galopante vertigem em direção ao final do ano (já estamos no outono, e daqui a pouco é Natal), tenho para mim que este disco já não foge do Top Ten das minhas escolhas. Com saída prevista para 8 de outubro, e tirando os recursos menos legais do costume, já se pode ouvir (com direito a clip e tudo) o tema que abre este décimo segundo LP da banda, que surgirá no mercado, a par do normal cd e do cada vez mais presente vinil, numa belíssima edição especial também em vinil de um tom que apelidaram de “sea glass green”, limitada a 1500 cópias. Chama-se, a faixa de abertura, “Fugitive Air”, e é uma pequena delícia pop cheia de swing mais ou menos contido. As minhas preferidas, no entanto, são “Obsidian Currents”, “Sirens Of Your Toxic Spirit”, “Triumph Of Disintegration” (que me faz lembrar Pavement, embora o timbre da voz de Kevin Barnes em nada se pareça com a de Stephen Malkmus) e “Raindrop In My Skull”.
Quando o verão acaba, como é o caso, é bom ter o caloroso prazer de ouvir discos como este. De ouvir bandas como esta, e de perceber que há sempre quem nos faça fechar os olhos e esboçar um sorriso, na certeza de que a pop alternativa ainda mexe e tem mais vida do que se poderia supor, se pensarmos em alguns discos lançados este ano. Pode ser que os Arctic Monkeys e os Franz Ferdinand (para dar apenas dois exemplos de bandas repletas de hype nem sempre muito justificado) ouçam Lousy With Sylvianbriar e aprendam um pouco com ele.