Este ano é dos bons porque marca o renascimento de Fever Ray. Projeto da sueca Karin Dreijer e produzido pelo seu irmão e outra metade dos The Knife, que não lançava um disco desde 2019.
É uma coisa estranha e reconfortante, esta mistura musical de Fever Ray que consegue manobrar a estranheza com curvas inesperadas que resultam ainda assim em canções catchy com tensão e uma veia tragico-cómica que desorienta.
Tudo aqui é propositado e é uma desconexão que funciona perfeitamente. “First I’d like to say that I’ sorry / I’ve done all the tricks that I can” é como começa este Radical Romantincs, com a canção “What They Call Us”, mas de facto ainda há truques na manga. “Even it Out”, produzida por Trent Reznor e com um arranjo sombrio onde parece que Dreijer ameaça crianças, está na linha entre o cómico e o assustador, mas é nesse mundo que se mexe à vontade Fever Ray. Em entrevista explicou que era apenas a frustração de ter de passar pelos protocolos escolares de forma pouco eficaz.
Temos por todo o disco uma eletrónica partida com várias referências, com as que podemos encontrar em “Looking For a Ghost”, produzido pela DJ portuguesa Nídia. Na produção passam também o inglês Vessel e Atticus Ross, que em “North” faz lembrar, claro, Nine Inch Nails, mas com uma canção que não destoava na voz de um Dave Gahan, por exemplo.
Em “Shiver” assume um tom mais confidente “I just wanna be touched / I just wanna shiver /Can I trust you?” canta, no meio de sinuosos sintetizadores e revela o que já se antevia na primeira canção. Este é um disco sobre o amor. Sobre várias facetas onde há espaço para reflexões “What if I die with this song inside?” (em “Kandy”) ou “Love’s carbon dioxide / Can’t say it out loud / I’m afraid to lose it” (em “Carbon Dioxide”) que vão mostrando várias partes de Fever Ray.
No geral é um trabalho bastante coeso e um disco que devia fazer parte da lista de melhores do ano de gente que gosta de coisas estranhas que se entranham.