Se Dançar É só Depois, de Ana Lua Caiano, contém 6 canções, onde os ingredientes são a música eletrónica e a música tradicional portuguesa.
O que é que um bombo tradicional e uma máquina de fazer loops têm em comum? Muito pouco, a não ser que sejas a Ana Lua Caiano. A jovem artista encarna neste disco uma espécie de Chef na composição de uma receita digna de vencer uma estrela Michelin. Uma base eletrónica, uma pitada de instrumentos tradicionais portugueses, como o bombo e o brinquinho da Madeira, sonoros “objetos do dia-a-dia”, a saber, copos, chaves ou caixas com feijão q.b., tudo envolvido em camadas de harmonias vocais e repetições melodiosas.
Continuando com o imaginário culinário, ouvir a Ana Lua remete-nos para a cena do filme “Ratatui” onde o conceituado crítico, Anton Ego, experimenta a receita do típico prato francês confecionada pelo ratinho, herói do filme, e é transportado para a sua infância. Também a fusão musical, usada pela artista, remete-nos para outros cenários musicais já conhecidos no panorama musical português, sempre feito de uma maneira meticulosa e sem nunca perder a alma.
Em Se Dançar É só Depois, lançado em Maio deste ano, encontramos nas canções uma aliança perfeita entre o moderno e o tradicional, uma continuação do que já tinha sido feito no trabalho anterior (Cheguei Tarde a Ontem, de 2022), embora a identidade visual deste último EP nos catapulte ainda mais para o tradicional. Apesar de ser lisboeta, a dinâmica anda à volta de um imaginário minhoto onde o folclore é um dos elementos encontrados. A estética dos telediscos e fotografia em geral, é da responsabilidade da irmã de Ana Lua, a cineasta Joana Caiano.
Apesar de as canções que compõem o disco transversalmente terem a mesma vibração musical, as letras versam sobre reflexões da artista, tanto de tópicos internos como externos. Ora ouvimos falar sobre medos e ansiedades, ou crise na habitação e os problemas com o excesso de trabalho, enquanto brinca com as palavras lembrando os grandes da música portuguesa.
Ao vivo, a Ana Lua apresenta-se no formato “one-woman-show”, e sentimo-nos num género de sessão de imersão no processo da concepção das canções. Embora a artista já tenha tocado em várias salas e festivais este ano, ainda é possível encontrá-la em vários espetáculos pelo país.