O Brasil é um continente. Por isso, não é de estranhar que num qualquer canto daquele grande país haja sempre uns putos a fazer umas cenas engraçadas. Em termos musicais, este ano o Brasil trouxe duas coisas que muito me têm acompanhado: o novo disco dos veteranos O Rappa e o primeiro disco de Clarice Falcão, que merece muitas audições atentas. E, no meio disto, os Boogarins.
Dois putos de Goiânia, do Estado de Goiás, atrás de onde Judas perdeu as botas. Que meteram na batedeira Kinks, Floyd e Mutantes, muito, muito Mutantes. E que, com este primeiro disco ingénuo e inesperado, arrancam um álbum a soar a velho, melhor, a soar a clássico. Tirando a língua, podiam ser uma banda de São Francisco, nos anos sessenta. Mas a língua, sim, a nossa velha língua de Camões adocicada de Amazónia, faz toda a diferença.
Este As plantas que Curam leva-nos, desde o título, a um mundo psicadélico e de alucinação. Para os críticos internacionais, lembram Tame Impala, e consigo perceber isso. Mas estes rapazes não tocam grande coisa, ao contrário dos Tame Impala, o que até é bom. Porque dá à música um tom low-fi, com riffs aparentemente atrasados sempre um milisegundo, dando a tudo uma aura de sonho e de preguiça boa. São 10 músicas de qualidade semelhante, tendo como cartão de visita “Lucifernandis” que, na verdade, diz tudo sobre o som desta banda.
Até agora, só deram concertos no Brasil, e aparentemente em buracos minúsculos. A coroa de glória, até agora, foi um dj set de Boogarins na primeira parte de Tame Impala, em São Paulo, já este mês. Ou seja, é uma banda que está ainda a descobrir o mundo. Em 2014 estarão na América do Norte e na Europa, com Portugal referenciado como destino preferencial. Se tiverem sorte e juízo, estes rapazes podem fazer uma bela carreira. Mas dificilmente serão tão ingénuos e tão livres como em As plantas que curam.
O bogarim é uma planta que liberta o odor do amor puro. Já estes Boogarins são meio planta carnívora meio lagarta fumadora de haxixe. Excelentes, portanto. Mesmo olhando pelo retrovisor, o rock vive.