Cada passo dado por este homem dentro da sua gigantesca constelação universal musical é de facto um evento a seguir. Com os Porcupine Tree em banho-maria desde 2010, Steven Wilson tem aparecido mais como artista a solo. Uma marcha que não significa necessariamente o fim da banda mãe de todos os seus projetos, mas ainda vai faltar algum tempo para que oiçamos o sucessor de The Incident, editado há mais ou menos quatro anos.
Sem gostar de estar preso muito tempo a uma só toada ou estilo, Wilson é uma espécie de Frank Zappa dos tempos modernos com uma popularidade cada vez mais em crescendo e que se calhar daqui a uns anos arrisca a ser tão importante como o percurso dos Pink Floyd de há quatro décadas atrás.
Com o seu terceiro disco a solo – The Raven That Refused to Sing – Wilson continua a mergulhar no som que ele gosta de fazer melhor: “el” rock progressivo. Puro e duro. E mais, tem o extra de ter consigo a superbanda que o acompanhou na tournée do anterior: “Grace for Drowning”. Sem ordem de entrada temos aqui grandes músicos como “o panzer” Marcos Minnemann (um dos finalistas ao lugar de baterista deixado por Portnoy nos Dream Theater); o excêntrico baixista Nick Beggs vindo diretamente da banda de Steve Hackett); o virtuoso e experiente Guthrie Govan; o monstro do jazz Adam Holzman nos teclados e a arma secreta, Theo Travis no saxofone que em tempos fez história ao lado de gente como Gong e Soft Machine.
Juntos e sob a batuta do recém-saído da reforma Alan Parsons (ex-engenheiro e produtor dos Pink Floyd), o coletivo criou um disco fabuloso sem grandes pretensões comerciais e onde a música tocada pela banda e composta por Wilson fala por si só.
São apenas 6 faixas, mas cada uma possui o charme e força suficiente para nos lembrarmos de nomes como King Crimson (nos momentos mais empolgantes) e de Genesis, Yes ou Floyd (nos mais melódicos). Com várias texturas, sabores e cores a música chega quase a tocar alguns píncaros capazes de levar o mais comum amante de rock, jazz ou eletrónica ao mais puro delírio sonoro.
“Luminol”, tema que inaugura Raven, representa na perfeição a identidade deste disco. Tem passagens complexas, absolutamente sublimes do ponto de vista técnico dos seus executantes, como contem momentos mais calmos onde Wilson privilegia o uso das harmonias vocais simplesmente acompanhado por uma guitarra meio adormecida e uma flauta sonhadora.
No tema seguinte, “Drive Home”, seguimos pela estrada fora, continuando a respirar esta liberdade criativa e que traz alguma paz de alma e conforto e que está muito em sintonia com os ambientes de “Grace for Drowning” embora aqui com uma toada mais negra. A canção narra a história sobre um casal que se despista num fatal acidente de automóvel. Contem também um excelente solo de guitarra que mais parece saído da mítica Fender Stratocaster usada por David Gilmour.
Tal como no disco anterior, Wilson mantem aqui o seu fascínio por ambientes negros e soturnos. “The Holy Drinker” tem aqui o seu “je ne sais quoi” de Robert Fripp misturado com as tendências mais modernas do rock alternativo com alguns laivos mais metaleiros.
“The Pin Drop” mantem a toada dramática do disco tal como Wilson gosta e o acústico “The Watchmaker” é tipicamente uma canção que só poderia ser escrita por um inglês obcecado por contos de fantasmas e ambientes que devem muito ao imaginário cinematográfico de Tim Burton.
A finalizar temos a faixa atmosférica que empresta o nome ao disco e que é quase uma canção perfeita para usar em cerimónias fúnebres tais são os tons de cinzento e negro. No entanto há aqui alguns raios de luz a penetrar pela janela do seu autor e que deixam um rasto de esperança. Nem tudo é necessariamente depressivo e este disco já é dos melhores candidatos a disco do ano.