Ao terceiro disco, os Zanibar Aliens esticam as asas para algumas novas paisagens sonoras, sem perder o puro sangue rock que sempre os caracterizou
Os lobos uivam e a caravana passa. Em poucos anos, os Zanibar Aliens (dois tugas e dois irmãos suecos a viver em Portugal) afirmaram-se como os grandes portadores da tocha do rock clássico no nosso país. Bela Vista, a estreia, é de 2016; menos de um ano depois, nova bomba, com Space Pigeon; e, ainda no finalzinho de 2018, aí está o terceiro tomo desta viagem, com o simplesmente intitulado III, trazendo-nos à memória os nomes dos discos de uma das grandes inspirações desta banda, os gigantes Led Zeppelin, que mereceram recentemente um extenso especial por parte do Altamont.
Tal como nos registos anteriores, III é um disco curto e muito intenso. O som dos Zanibar Aliens está solidificado, nunca fugindo muito do registo do hard-rock/blues da viragem dos anos 60 para a década seguinte. Essa é, aliás, a questão que sempre se coloca a esta banda: quando se conseguirão libertar das suas influências e encontrar uma voz verdadeiramente própria (veja-se o mesmo problema em relação aos Greta Von Fleet, que estão fartinhos que lhes perguntem pelos Led Zeppelin).
Sendo esta questão relevante, há sempre o risco de os lobos se afastarem demasiado da alcateia e adquirirem hábitos mais típicos de outras espécies, ou seja, de os Zanibar Aliens, na tentativa de mexer no seu som, poderem começar a soar a outra coisa qualquer que não aquilo que neles gostamos.
III começa logo a prometer uma abertura estilística, com “All I need is You” a surgir num ritmo ligeiramente mais lento, quase de balada preguiçosa de um verão quente, levando-nos para sons que nos lembram o magnífico Houses of the Holy. Um bom começo, sem dúvida, mas os rapazes não esperam muito para nos dar um petardo rock e quase glam, com o segundo tema, “I am the USA”.
Segue-se “Fever”, uma música que busca inspiração ainda mais atrás, lembrando Del Shannon antes de se transformar num registo quase caribenho movido a um piano inspiradíssimo, acompanhado no final pelos acordes desgarrados de uma guitarra portuguesa. Acredite-se ou não, estranhamente funciona.
“Come on Down” é o regresso a um caminho mais tradicional, uma descontraída e sentida balada, chegando a levar-nos à Motown com o Verão da linha sempre à espreita (a Parede é uma base tradicional da banda). A primeira metade do disco fecha com “Human Error”, um bom boogie-rock com uns novos truques de produção a dar espaço e gás a um belo solo de guitarra. E como é bom um velho solo de guitarra!
O tempo volta a abrandar com “Not Around”, nova balada lenta e cheia de emoção. Será que os Aliens encontraram o amor? Por vários temas deste disco, parece (o que nada tem de mal). E, por mais que gostemos da guitarra, o final deste tema, com o órgão espacial a conduzir-nos pela mão, pedia um novo arranque para uma exploração prog, ao qual a banda continua a resistir.
“Good Things” arranca com um tom optimista que nos remete para os saudosos Clearence Clearwater Revival, toda ela acompanhada por uma slide guitar fresca, ao qual se juntam o piano e até o assobio. Fechando os olhos, estamos no Mississipi. “Lonely Hero” acaba por ser o tema mais esquemático e, como tal, menos inspirado do disco, embora seja salvo com brilhantismo pela orgia musical final.
A caminho do fim, “Hometown” volta a subir o botão da intensidade, com o vocalista Carl Karlsson em pleno modo Robert Plant. É aliás o tema mais descaradamente Zeppelin do disco (aquele final, aquela subtil dupla guitarra, óptimo!). III termina com a doce “As long as I get to see you”, simples e bonita, um descanso depois de uma viagem intensa.
Ao terceiro disco de longa duração, os Zanibar Aliens dão um pequeno passo na abertura do seu som, com uma maior variedade estilística e arranjos mais cuidados (na utilização das teclas, por exemplo), conseguindo manter as forças que já haviam demonstrado no passado e que nos fizeram fãs desde a primeira hora.
Parafraseando os Supergrass, The Kids Are Allright.