Malibu Ken dá-nos o melhor de dois ermitas da música alternativa, num projeto que só peca por não ser mais longo.
Quando em 2008 Tom Fec, o líder dos Black Moth Super Rainbow, mais conhecido como Tobacco lançou o seu primeiro disco a solo, Fucked Up Friends, era impossível ignorar a presença de Aesop Rock em “Dirt” não tanto pela sua qualidade intrínseca (esta não se destaca particularmente, o que nos diz mais sobre o álbum do que sobre a música) mas pelo quão vinda do nada a colaboração parecia. Não é bem assim: A verdade é que o grupo de Fec, os Black Moth Super Rainbow e Ian Bavitz, nome real de Aesop, abriram para os Flaming Lips em 2007 e já na altura os dois músicos discutiram a possibilidade de fazerem um disco colaborativo.
Passaram-se oito anos, que viram Aesop Rock afirmar-se como um dos MCs mais literatos do hip-hop (é, afinal de contas, o rapper que detém o maior vocabulário no género) enquanto Tobacco expandia o seu leque sonoro, adquirindo sonoridades mais ácidas e saturadas que o afastaram da pop bucólica e cozida dos Black Moth Super Rainbow.
Malibu Ken não tenta ser mais do que é: Nenhum músico tenta apaziguar as suas idiossincrasias ou adaptá-las ao outro, tornando este disco redundante. Os melhores e mais óbvios frutos desta falta de flexibilidade estão em “Acid King” o primeiro single. Os sintetizadores triunfantes de Tobacco formam a cama ácida onde Aesop Rock cospe, com uma precisão jornalística, a história de Ricky Kasso, um jovem que, sob o efeito de LSD, matou à facada um amigo, afirmando mais tarde ter seguido as ordens de Satanás.
O conceito de narrar estas histórias sórdidas é um dos muitos pontos de encontro dos dois músicos cuja estética deve muito à mitologia miserável e repugnante dos subúrbios americanos. “Churro” é sobre um escândalo ocorrido em Pittsburgh, na Pensilvânia, que envolveu os habitantes da cidade assistirem a duas águias a alimentar as suas crias com a carcaça de um gato.
Tobacco também tem uns truques na manga. “Dog Years” vê o músico a desconstruir o instrumental à medida que este se aproxima do fim e a sua voz, filtrada como sempre pelo vocoder, partilha com Aesop o refrão desta canção e de outras, nomeadamente, “1 + 1 = 13” onde a saturação de fita magnética e arpejos de pastilha elástica dominam a paisagem.
Quando o último refrão da lânguida “Purple Moss” se dilui em pitch shifts e teclados derretidos, ficamos com a sensação de que a aventura acabou prematuramente. Com uns meros trinta e quatro minutos é um disco demasiado curto para nos saciar completamente mas, na sua curta duração, vislumbramos alguns dos momentos mais brilhantes na discografia dos dois artistas.