A banda americana Woods tem mantido um ritmo de gravações elevado: com o primeiro disco lançado em 2006, foram lançando um novo todos os anos. A excepção foi o ano de 2013, que não trouxe qualquer sucessor para Bend Beyond (2012). Perdoamos-lhes isso, porém, com este oitavo trabalho: With Light and Love, gravado num estúdio próprio em Brooklyn (mais precisamente o estúdio da editora Mexican Summer), deixa para trás as gravações caseiras dos discos e o lo-fi de alguns dos trabalhos anteriores.
Saído no dia quinze de Abril deste ano, este disco continua o caminho percorrido pela banda entre os territórios folk, psych-rock e surf rock. A música do trio (Jeremy Earl, Jarvis Taverienere e Aaron Neveu) inspira-se na tradição do psicadelismo pop — ouvem-se ecos dos Beatles nas canções pop espaciais—, notando-se ainda assim um lado pastoral, talvez americanizado, neste material. Ao ouvi-lo, seguramente se imaginarão num retiro por uma floresta mágica. Freak folk com sentido pop e veia indie rock / surf rock nas canções, portanto – às vezes com asas para voar. With Light and Love é sobretudo um passo à frente dado pela banda, como admitiu recentemente Jarvis Taverienere.
Exemplos destas sonoridades são as canções «Shining», canção leve, com intenção pop e boa linha de guitarra a solar, «Twin Steps», canção ligeiramente mais densa, ou sombria, onde voltamos a ouvir um excelente arranjo de guitarra, e «Full Moon», uma música «Beatleiana», simultaneamente hipnótica e sonhadora. No geral, o que atravessa sobretudo o álbum é uma maturidade melódica cada vez mais evidente, ainda que não impeditiva de momentos mais desvairados.
«With Light and Love», por exemplo, destaca-se de todas as outras canções do disco. É uma viagem enorme com cerca de nove minutos de duração: vai a momentos arrastados e solares, muito melódicos e com voz a acompanhar (a dado momento entoam-se «uhhhs» uns atrás dos outros), passando por momentos espaciais ora com jams instrumentais prolongadas, ora com momentos de maior acalmia, cheios de groove, que piscam o olho ao blues. Há sobretudo espaço ora para nos deliciarmos com o som da guitarra e com o groove do baixo, ora para nos deixarmos envolver pela orquestração completa acompanhada pela voz. É, em suma, uma viagem inteira, completa: longa o suficiente para nos fazer imergir na música, para nos levara muitos sítios e a muitos estados de espírito.
Os Woods são, hoje, uma banda muitíssimo relevante. A conjugação entre o sentido pop das canções e uma identidade muito própria e criativa nos arranjos instrumentais e na voz é particularmente bem conseguida neste With Light and Love. É aproveitar estas dez canções e estes quarenta minutos como se estivéssemos num qualquer sítio exótico e numa praia deserta, transportados telepaticamente variadas vezes, muitas delas com o sol a aquecer e a música a embalar os sonhos. O equilíbrio na qualidade das faixas é tanto que estes quarenta minutos passam num instante.