Defendo que a música deve ser julgada por si, pelo seu resultado, independentemente da história ou do conceito por trás. Mas há histórias que são simplesmente demasiado boas para deixar passar.
É esse o caso dos White Light, banda escocesa de rock psicadélico de cariz cristão, que viveu tempos rápidos nos anos 70 e depois desapareceu nas brumas do tempo. Até 2016.

O seu único disco, Parable, foi editado em 1974, sem grande impacto. Depois, cada um dos quatro membros da banda entrou mais a sério na idade adulta e nunca mais se lembraram do assunto. Recentemente, um amigo do antigo guitarrista – agora um padre perto da idade da reforma – viu à venda por quase mil dólares uma cópia de Parable, mostrando que, entre os conhecedores dos sons psicadélicos, o disco havia ganho um culto significativo. A editora Guerssen estava atenta e fechou os direitos para a reedição de Parable, dando atenção a um grupo de sexagenários que se mostram completamente surpreendidos por o tempo os ter finalmente apanhado. Além do padre, há um programador informático, um avaliador de imobiliário e um bancário, todos à beira da reforma (pode ver, abaixo, o momento em que, em 2016, se juntam para brincar um pouco).

E o que é este Parable? É uma delícia de apenas seis temas (três dos quais estão no Spotify, os outros espalhados pelo Youtube), com nomes como “Mighty Big God” ou “In my father’s house”, ilustrando a influência cristã que sempre os moveu. Mas o som é o que mais nos agarra de imediato neste disco. Uma deliciosa mistura de blues, boogy e rock psicadélico, género que normalmente associamos a coisas mais pecaminosas do que à exortação da fé religiosa. Um som puro, coeso, ligeiramente ácido, com uns teclados a lembrar o bom velho Manzarek, a fazerem a diferença.
Um belo disco de rock psicadélico do fundo do baú, da Escócia, de um tempo perdido. Que conhece agora a reedição que merece, em cd duplo e LP triplo.