Como é que se cria um hype sem um disco editado? O primeiro álbum das Wet Leg sai a 8 de Abril e o Altamont esteve à conversa com elas.
É possível que os anos de ouro do indie rock tenham ficado no início dos anos 2000, mas se o punk não está morto, muito menos está o indie rock. De um confinamento que obrigou a um regresso à base, surgiu um “acidente produtivo” chamado Wet Leg: um duo feminino da Ilha de Wight tão fresco e libertador que pode mesmo ter conseguido tornar o indie rock cool de novo.
Foi no topo de uma roda gigante de um festival, depois de um concerto de Idles, que oficializaram o estatuto de banda. Mas foi a pandemia que as reuniu na ilha britânica onde cresceram. Antes disso, chegaram a tocar no festival da ilha de Wight – ainda sem músicas suficientes para preencher uma setlist – mas depois da desistência conjunta da escola de música, Rhian Teasdale foi trabalhar para Londres e Hester Chambers juntou-se ao negócio de família.
Com o regresso a casa (dos pais) para um confinamento mundial, a amizade de dez anos consumou-se em algo palpável. Com roupas e chapéus encomendados na internet e uma versão acabada de instalar do Final Cut, realizaram e editaram o vídeo de “Chaise Longue”, que já ultrapassa as 2.7 milhões de visualizações e a música 9.9 milhões de streams no Spotify.
Mas como é que se cria um hype sem um disco editado? Bem, a internet é o epicentro da novidade e a música um ponto de encontro. A sonoridade das Wet Leg é leve e descomprometida e as letras são simples mas atrevidas. “Wet Dream”, por exemplo, foi inspirada numa mensagem de um ex-namorado da vocalista sobre um “sonho molhado” com a sua participação. Confrontada com essa informação não requisitada, Teasdale fez questão de explicar, aberta e provocadoramente, como a liberdade deve estar aliada a noção. E, acima de tudo, como a irreverência se pode personificar numa música.
O primeiro álbum das Wet Leg sai a 8 de Abril e o Altamont esteve à conversa com elas.
Altamont: Estão pela Europa a fazer uma tour de entrevistas?
HESTER CHAMBERS: Nem sabia que isso era uma “cena”.
RHIAN TEASDALE: Olhámos para o nosso calendário e ficámos tipo whoa, what? O que é que isto quer dizer, promo?
CHAMBERS: O Laurence da Domino disse-nos ‘vocês vão adorar, é tipo uma passagem real para um músico’.
TEASDALE: Especialmente agora. Se fossem os anos 90 ou assim… estaríamos ‘claro, Europa’. Agora parece um bocado jet set, não parece? (risos)
Wet Leg, uma banda que surgiu a meio de uma pandemia. Como é que o aborrecimento se transforma em música? Foi o contexto perfeito?
TEASDALE: Acho que termos o tempo e o espaço e zero pressão… Não sei, não estávamos a tentar fazer nada, estávamos só a sentir o nosso tempo, a criar acidentes felizes.
CHAMBERS: Não há erros, apenas acidentes felizes.
Se não fosse pelo confinamento, tu (Teasdale) estarias em Londres.
TEASDALE: Eu estaria em Londres e a Hester estaria ocupada na Oficina dos Elfos a fazer jóias para elfos. E eu estaria em Mordor. (risos)
Quando estiveram a estudar música, uma de vocês foi convidada a sair. Será possível que os cursos de música não sejam compatíveis com o “rock’n’roll”?
CHAMBERS: Havia muito que aprender, mas neste caso não encaixava propriamente connosco. Mas o nosso baixista e teclista tiraram esse curso. Eu não conseguia lidar com toda aquela escrita. Era tão má a escrever ensaios. Ainda não estava a meio do primeiro ano e já queria parar. Escrever ensaios não me vai ajudar a fazer música.
TEASDALE: Acho que é o tipo de curso que se não estiveres a divertir-te enquanto o fazes, então porquê fazê-lo? Se não vais arranjar um trabalho… No final de contas, não é como direito ou medicina, onde o curso é o marco que te permite atingi-lo.
CHAMBERS: Podes sempre perceber onde queres estar: engenheiro de som, tour manager, ou algo assim. Se não estiveres a tirar o máximo de partido disso, mais vale não fazê-lo. E é muito caro. No ano em que começámos o curso, as propinas triplicaram no Reino Unido. Portanto, de repente, quanto dinheiro é que precisaríamos para fazer um curso inteiro?
E quanto ao vosso enorme hype, como é que isso aconteceu?
TEASDALE: Oh, engraçado… Muito engraçado.
CHAMBERS: Qual hype? (Risos)
Vocês demoraram algum tempo a assinar com uma editora. Não queriam estragar a diversão? Ou estavam com medo de perder a vossa liberdade criativa?
TEASDALE: Acho que até aconteceu bastante rápido. Acho que estávamos a começar a assentar os pés no chão e a tentar descobrir um manager, e um amigo que antigamente tocava baixo na banda enviou as nossas músicas sem sequer sabermos ao nosso actual manager e disse-nos ‘ele é um manager muito conhecido e quer muito conhecer-vos. E eu e a Hester ficámos tipo… Hm, não…
CHAMBERS: Vai ser uma perda de tempo. (risos) Mas acabámos por nos encontrar com a Domino algumas vezes e de todas as vezes pareceu que era a decisão certa. Sentimo-nos seguras e (sentimos) que eles estavam interessados em nós pelas razões certas – que eram a nossa música – e não tinham nenhum grande plano para nos vender, ou fabricar-nos como algo que nós não queríamos ser.
TEASDALE: E é a Domino. É a… Domino! Pessoal, é a Domino! A Domino quer assinar-nos! (Risos)
E agora que estão na indústria da música, é demasiado burocrático ou ainda é divertido?
TEASDALE: Há muitas coisas aborrecidas sobre as quais nunca tínhamos pensado.
Como esta entrevista.
TEASDALE: (Risos) Esta entrevista não, na realidade é óptimo poder conhecer pessoas na vida real. Chega a ser exaustivo ter tantas reuniões em Zoom, mas no final de contas a razão pela qual estamos a fazer isto é exactamente para tornar possíveis as outras coisas divertidas como dar concertos, ir para o estúdio, escrever as canções e estar com os nossos amigos. Se esse é o nosso trabalho, então esse é um preço muito pequeno a pagar. Há muitas coisas que não pensámos que teríamos de fazer, mas ainda assim vale a pena.
E como tem sido esta mudança de partir de uma “vida normal” para os grandes palcos pelo mundo fora num espaço de tempo tão curto de tempo?
TEASDALE: Eu estou mesmo orgulhosa de nós (risos). Acho que ambas – e o resto da banda também – estamos a desenvolver muita resistência. Lembro-me que nos primeiros concertos, um de nós, pelo menos um dos cinco, ficava às voltas ‘oh não, cometi imensos erros, ou o som não estava bom’ e agora damos o concerto e divertimo-nos imenso. O som não tem de estar perfeito e não faz mal se cometermos um erro.
CHAMBERS: Exacto. Em vez disso ficamos tipo ‘incrível, mal posso esperar pelo concerto de amanhã à noite’.
E como tem sido este crescimento de fama? Já vos conhecem na rua?
TEASDALE: Na Ilha de Wight toda a gente se conhece, mas em Londres já aconteceu algumas vezes. Tem piada a nossa presença online. Sim, nós temos uma presença online. E as pessoas comentam imenso nos vídeos. Às vezes coisas fixes, outras coisas estranhas, tipo de que planeta é esta pessoa? Às vezes coisas más. Tu fazes isso? Eu não faço isso, tu não fazes isso, ninguém que nós conhecemos faz isso. Quem são estas pessoas?! (Risos)
E medo do palco? Dúvidas interiores?
TEASDALE: Sim, claro que sim! Mas mais uma vez, é um pequeno preço a pagar. E é incrível conseguires desafiar-te. E perceberes que consegues fazer coisas que nunca imaginaste fazer na vida. Da nossa experiência ainda nada nos matou, só nos tornou mais fortes.
E o que é que nos podem contar sobre o vosso álbum de estreia?
TEASDALE: Estou muito entusiasmada para o lançamento. Durante taaaanto tempo foram só aquelas duas canções, acho que é uma boa forma das pessoas nos ficarem a conhecer. Há alguns momentos diferentes no álbum. Estou orgulhosa dele. Mas acho que é altura de deixar o nosso filho sair para o Mundo. E assim nós podemos olhar em frente e começar a trabalhar em coisas novas, e isso é entusiasmante. O álbum vai sair a 8 de Abril. Estamos a tentar que as pessoas façam a pré-reserva e a seguir, em vez de lançarmos o álbum, mudamos de nome para LET WEG. E depois começamos o processo todo outra vez e arranjamos mais pessoas para reservarem o álbum. (risos)