Saint Cloud é disco que não podia passar incólume perante um 2020 tão incisivo na sua forma de nos revirar as vidas.
Começamos por nos desculpar pela demora – este disco, lançado no já tão longíquo mês de Março, esteve sempre ali, como um livro na mesa de cabeceira à espera de vez, a ver outros a passar à frente sem qualquer explicação, mas consciente de que um dia chegaria a sua vez de ser escrito. Hoje é o dia.
Saint Cloud, quinto disco de Katie Crutchfield conhecida pelo nome de guerra de Waxahatchee, é óptimo de ouvir ponto final. Acabou por não constar entre as escolhas do Altamont para melhores do ano, mas será, na minha modesta opinião, um óptimo sexto jogador (se quiseremos fazer analogia com o basquetebol) ou décimo segundo jogador (se a analogia preferir dirigir-se ao futebol). Até porque, tendo sido lançado às portas do novo normal, foi uma excelente companhia para o tempo durante o mesmo, e fê-lo quase sem ter dado por isso, esteve sempre ali a entrar no shuffle e sempre com músicas cativantes.
“Can’t Do Much” é a segunda música do disco e é daquelas que é pura simplicidade. “Fire”, que se segue, dá a toada ao álbum todo – nela Crutchfield canta que está “wiser, slower, and attuned,” , o que nos leva ao tema geral no qual Saint Cloud está impregnado – a conquista da sobriedade por parte da sua autora. Longe vão os tempos de Cerulean Salt, os problemas são novos, mas a honestidade e despudor com que Crutchfield se entrega às suas canções seguem intactos. São simples padrões de blues, acordes simples e uma banda por trás a trabalhar apenas para a alma da canção.
Mais para o fim do disco há um sequência incrível de canções, “War” que pretende e consegue “fill up the room”, “Arkadelphia” que é uma bela malha folk, pacífica, “Ruby Falls” que será talvez a pedra mais preciosa das onze que compõem o disco, fechando com a canção homónima, “Saint Cloud”, puro deleite, voz acima de tudo o resto, e que nos deixa a aquecer em lume brando (“If you burn slow, burning slow”). É de ouvir e repetir.