O álbum de estreia de KeiyaA é uma página do seu diário, um relato muito pessoal das suas histórias, ideias e ambições
Ao longo dos últimos anos temos visto o Soul e o R&B a migrar para os quartos e para os estúdios caseiros. Liv.e, Standing on the Corner, Navy Blue e tantos outros trocaram o brilho e o espetáculo pela fragmentação e a introspeção. Inserida neste ambiente artístico, KeiyaA, oriunda de Chicago, no Illinois, tem feito o seu percurso timidamente, lançando um EP e músicas soltas nos últimos cinco anos. Em Março deste ano, publica Forever, Ya Girl que contém todos os elementos de um disco de sucesso, fosse esse o seu propósito.
Somos apanhados desprevenidos na primeira música, que começa com um teclado difuso que, quando a voz finalmente entra, é apenas acompanhado por uma batida rudimentar e os coros descorporizados. “Way Eye”, que lhe segue, não perde tempo: com pouco mais de um minuto de duração, um verso e um refrão é um crime que não seja mais desenvolvida. Mais uma vez os coros orbitam à volta da voz principal, elevando-se numa sublimidade que devia obrigar Solange a prestar atenção.
Já na segunda metade do álbum, o single “Negus Poem 1 & 2” é um poema sinfónico, no qual a cantora declama, em aparente fluxo de consciência, slogans de justiça social, enquanto o instrumental é filtrado como se o estivéssemos a ouvir do lado de fora da discoteca. Apesar da sua voz ser o elemento mais forte do disco é importante mencionar que este foi maioritariamente produzido por KeiyaA, com DJ Blackpower a co-produzir quatro das músicas e DJ Cowriiie produzindo uma delas.
A combinação de teclados obnubilados, batidas simples, temática afrocêntrica e os interlúdios perenes, insere Forever, Ya Girl no panorama atual do R&B alternativo. Não cai no erro de alguns álbums do género ao perder-se em devaneios desnecessários que servem apenas para inflacionar artificialmente a duração do disco ou o seu pathos. As melodias são orelhudas e o seu estilo fragmentado permite ao ouvinte escutá-lo por ordem, de trás para a frente ou em shuffle sem que este perca a sua força.