No ocaso da década de 2000, os Vampire Weekend agarraram nas suas influências e fizeram um dos melhores discos do indie. Meteram Paul Simon e Wes Anderson na batedeira e voilà: um disco intemporal.
A música é, por diversas vezes, mais do que ela apenas representa. Por vezes transcende o conceito de banda ou disco e começa a falar-se de movimentos, de “cenas” que estão a acontecer. Exemplos como os de Liverpool no início da década de 60, com o Merseybeat; de São Francisco em 1966-67 com o Rock Psicadélico, os anos loucos da “Madchester” e, mais recentemente, Seattle com o Grunge, são o que se pode chamar de movimentos que surgem quase como geração espontânea. No entanto, nada mais estará longe da realidade. Estes movimentos surgem devido, principalmente, a causas sociais. Os Working Class Heroes de Liverpool como os Beatles, Hollies ou Herman’s Hermits, surgiram devido ao vaivém do porto da cidade nortenha, onde os marinheiros traziam discos vindos do outro lado do Atlântico. Discos americanos de músicos negros.
Em São Francisco, milhares de miúdos, aborrecidos com o bonitinho American Way of Life, fugiam para casas vitorianas e georgianas que os ricos iam abandonando com receio de derrocada devido a um futuro tremor de terra. Aí, e com o aparecimento do LSD, fez-se uma comunhão entre artistas. Músicos, escritores, dramaturgos, filósofos, etc. O resultado foi o que se viu. Geração Hippie and all that jazz…
Em Manchester viviam-se os anos loucos de rave com os Primal Scream, Happy Mondays. No final dos anos 80, agastados com o som Pop FM que se ouvia, o punk rock começou a ser o lema de revolta. A angústia criada numa cidade fria como Seattle revelou as bandas catalogadas como grunge como Nirvana, Pearl Jam, etc… A razão do uso de camisas de flanela era realmente devido ao frio.
A história mostra-se pródiga em exemplos destes, portanto, mais tarde ou mais cedo, mais um movimento teria de surgir algures. Ora, isso acabaria por despontar numa das zonas mais podres de Nova Iorque, no bairro de Brooklyn.
Com a especulação de preços de casas em Manhattan, muitos jovens artistas começaram a piscar o olho a Brooklyn, mais concretamente Williamsburg. Maioritariamente ocupada por minorias, Brooklyn começou a tornar-se naquilo que agora chamamos de Hip ou Trendy. Hordas de jovens rejuvenesceram um outrora feio e perigoso borough de Nova Iorque dando-lhe aquilo que também acontecera em São Francisco. Um jorrar de interesses multiculturais fizeram brotar, anos mais tarde, dezenas de artistas.
No caso particular da música, temos os TV on the Radio, Yeasayer, MGMT, entre outros e, obviamente, os Vampire Weekend. A banda nova-iorquina pegou no melhor de Paul Simon, fase Graceland, e transportou-o para o século XXI. O indie rock ganhava agora ritmos africanos. Os elementos da banda apenas disseram: “Queremos que as nossas músicas sejam como a banda sonora de um filme do Wes Anderson”. E isso notou-se tanto a nível musical como a nível de telediscos. Até porque o baterista, Chris Tomson, também escreve guiões de filmes.
Os Vampire Weekend são uma banda que transpira conhecimento musical além do rock, e, neste seu primeiro trabalho, foram ourives na arte de misturar, e bem, várias culturas musicais. Quem ouve Vampire Weekend, o disco, consegue criar uma imagem bem vívida do som que a banda nos está a dar. Os meninos de Upper West Side, com formação de música clássica, cansaram-se dos chás das tias e começaram a ouvir Graceland, daí foi um salto para ouvirem a música do Soweto. O caldeirão de brooklyn, na nova cena indie fez o resto. O disco é imediato, urgente e fresco e, acima de tudo, é bom, muito bom.
Ouvi-los fazer reparos acerca da arquitectura (“Mansard Roof”), maldizer da gramática (“Oxford Comma”), enquanto a bateria e o baixo nos levam para um mundo totalmente diferente é delicioso. O primeiro single, “A-Punk”, foi capaz de ter levantado qualquer morto do seu caixão. Uma canção que, embora tendo tido um airplay incrível, nunca há de cansar. As suas linhas de guitarra, de influência africana, são uma constante no resto do álbum. “Cape Cod Kwassa Kwassa” acalma o ritmo mas sobe o nível de influência africana, enquanto “M79”, outra das grandes canções do disco, traz os instrumentos de cordas e um Cravo. O modo sincopado como Ezra Koenig, o vocalista, canta faz-nos estar constantemente a bater o pé de modo a estarmos sempre no ritmo.
Quase a fechar, “Walcott”, canção que liga o nome da banda ao disco, onde a personagem principal, Walcott, após a morte do pai às mãos pelos vampiros, foge para Cape Cod para avisar o mayor local. O filme que Koenig idealizou quando era estudante. São quase quatro minutos de pura adrenalina e emoção.
“The Kids Don’t Stand a Chance” encerra o álbum de uma forma quase pueril, ajudada pelo modo como Koenig emprega a sua voz, uma das suas grandes qualidades.
Por detrás dos vampiros assassinos, dos telhados e vírgulas de Oxford, está uma banda que está perfeitamente segura de si mesmo, que conseguiu equilibrar a dose entre boa pop e música mais erudita ou menos popular, dando-nos um disco cheio de influências mas tremendamente original. Sem dúvida uma das grandes surpresas da década, a liderar o caminho nesta nova fase do indie rock.
concordo com o grande vasco. a tua lenga lenga era muito bonita se os Vampire Weekend fossem muito bons, coisa que não são. Nem muito menos lideram qualquer tipo de movimento. Não podiam, são demasiados banais. Aliás, são uma seca. Desconfio de tudo o que venha de trends, anyway. Mas sempre se toleram mais do que os Killers ou outras merdas que se vão postando aqui.
que exagero, fred
Grande som o Cousins!
Na linha do primeiro álbum…
Ainda não tinha ouvido…
Vamos aguardar. Apesar de uma primeira tentativa algo fraca com Horchatta, Cousins é, sem dúvida, um musicão!
Bom som/excelentes vídeos!
Espero ansiosamente pelo novo disco!