Tal como a sua guitarra, o californiano de cabelos compridos, Ty Segall, trabalha a uma velocidade furiosa. No espaço de nove anos, não foram menos de oito discos aqueles que lançou em nome próprio – sem contar com o lançamento de Slaughterhouse, em 2012, gravado com a sua banda de tournée, e com dois discos com seu projeto Fuzz – no qual assume a posição de baterista – na companhia de Charles Moothart e Chad Ubovich. Segall assemelha-se a uma vítima da sua hiperatividade, incapaz de parar e de respirar por entre guitarradas explosivas, baterias frenéticas e rock que não pede desculpas. Mas será que, a este ritmo galopante de lançamentos desde 2008, Segall assimilou o mote de “quantidade e não qualidade”?
2015 foi o primeiro ano, desde o início da sua atividade, no qual estranhámos uma ausência de um longa duração em nome próprio (embora nos tenha falado através de alguns EPs e dos pratos no segundo disco de Fuzz, II). Estranhámos, até que em Novembro Segall descansou as almas agitadas dos miúdos e graúdos com estômagos torcidos de fome por mais do seu rock a soar a um batido de Black Sabbath, The Stooges e Black Flag. Fê-lo anunciando um novo disco que sairia ao mundo no ano seguinte: e fê-lo de uma forma que pode ser descrita, no mínimo, como pouco convencional – enviando o conteúdo do disco ao site Pitchfork numa cassete VHS – onze músicas… e um filme de 1993 de Michael Keaton. Pouco depois, foi a vez de ver a luz do dia o site www.emotionalmugger.com, que incluía um vídeo apresentando a nova banda de Segall – os chamados “Muggers” – tocando versões ao vivo dos temas, completando com máscaras de crianças, e um vídeo do próprio Segall a explicar o conceito que dá nome ao disco (uma troca psicanalítica entre sujeitos formada como resposta ao contexto híper-sexualizado do mundo em que vivemos).
Tanta coisa para quê? Acaba por ser um disco de Segall, que, embora permaneça um corpo de trabalho tão sólido como os seus lançamentos anteriores, nada de novo tem para oferecer. É importante evitar a queda em falsas interpretações: Emotional Mugger é um disco cheio, com muito para oferecer, e que certamente dará frutos assim que Segall se ponha na estrada e nos fizer enlouquecer em palco, saltar e esmurrar num mar de gente unida por uma paixão fervosa ao rock ‘n’ roll que nos faz mexer. Mas transposto para o estúdio, para a aparelhagem e para as nossas salas de estar, Emotional Mugger não nos oferece muito mais do que aquilo que Segall tem feito ao longo dos últimos oito anos – e por vezes, melhor. É como regressar a uma casa conhecida, com todos os cheiros aos quais nos habituámos e a mobília toda no sítio. Ainda lá estão as guitarras vigorosas, a bateria cheia de vida, a voz afogada em riffs que nos atingem como uma maré-viva e sintetizadores pujantes. Mas é esse o problema: os anos passam e Segall não se mexe, não muda os armários de sítio nem troca os tapetes, e cada lançamento cada vez mais toma os contornos dos anteriores. Apenas podemos alimentar a esperança que talvez Emotional Mugger seja o fim de um capítulo para Segall e companhia e que comecem um novo brevemente – porque com riffs que arrefecem passado segundos de escuta e a mesma fórmula a ser aplicada vezes e vezes sem conta, a urgência de mudar nunca se revelou tão pertinente.
Nem tudo é mau: de destacar são as faixas como “California Hills” – talvez a mais forte do disco, com um balanço invejável e harmonias a lembrar uns tais quatro de Liverpool – e “Mandy Cream” – dona do riff que consegue ser mais memorável em todo o disco. Mas como um todo, não funciona: é mais do mesmo, e mesmo gostando do mesmo, mas há um dia em que nos fartamos e pedimos, “podemos comer outra coisa ao jantar, por favor?” Para guardar na gaveta até chegar ao dia em que Segall e companhia transformam o punhado novo de músicas num concerto memorável, algo ao qual já nos habituaram. E esperar novidades.