Os Tinariwen são, a par de Bombino, os grandes embaixadores do chamado “rock do deserto”. E assinam este ano com Emmaar, lançado em Fevereiro, (mais) um grande disco.
Emmaar foi o primeiro disco gravado fora da região sahariana de África, o território do povo tuaregue, devido à insegurança socio-política da região. Porém, não é por aí que se perde de forma nenhuma a aura africana desta música – e se no seu deserto não podiam fazer música, deslocaram-se ao deserto de Joshua Tree, nos Estados Unidos, para se sentirem musicalmente confortáveis e no seu ambiente.
Emmaar é rock do deserto e blues misterioso. Mas isto não é blues clássico, porque quem afirmar não sentir a aura africana dos Tinariwen estará a mentir – das palavras proferidas em Tamasheq (a linguagem utilizada pelos Tinariwen) até à percussão que, envolvida nas guitarras, nos faz sonhar num território longínquo, não-ocidental, imenso como o deserto do Sahara.
A questão das vozes da banda cantarem numa linguagem desconhecida é mesmo um dos grandes factores diferenciadores do grupo, servindo como um acrescento de exotismo que soa preciso (na sua função de nos oferecer uma música própria, identitária e não-americanizada).
Oiça-se a exelente canção “Toumast Tincha”: início constante e contido, até a guitarra se soltar com groove e precisão “bluesiana”.
As gravações dos Tinariwen fazem-se ao vivo, com os músicos todos na mesma sala para que a conexão entre todos resulte na perfeição. E em Emmaar isso sente-se: não tanto nas improvisações criativas, mas antes na ligação entre toda a secção rítmica que nos oferece uma coesão instrumental e uma ligação entre os diferentes membros dos Tinariwen absolutamente precisa e colectiva – todos contribuem para uma sonoridade que, mais que das somas das partes, se faz do todo.
“Talahmot” é outra das grandes canções, onde uma percussão constante e uma guitarra que vai surgindo aos bocados nos oferecem um instrumental relativamente longo – e é à sexta canção que um desconhecedor dos Tinariwen fica com a certeza absoluta de que mesmo os instrumentos comuns, com eles, ganham uma sonoridade diferente de muita da música rock que hoje ouvimos.
Entre momentos mais contidos e nostálgicos, e outros mais afirmativos e pujantes, estes Tinariwen oferecem-nos em Emmaar uma música que, por mais que falemos em blues, soa absolutamente única e inovadora. Rock do deserto, pois claro.