Escreve-se novo capítulo na história do homem-tigre, tendo Zeitgeist como ponto de partida, disco transgressor e sombrio com abordagem a novos territórios nascidos na pista de dança. E parece ser o próprio Paulo Furtado que o assume. Terá sido na discoteca de Lisboa que nasceu a ideia (ou o desejo) de derivar a sonoridade de Legendary Tigerman para algo nunca usado em discos anteriores. Um pouco como o próprio conceito filosófico de zeitgeist, numa espécie de sinal dos tempos que marca uma época e um contexto específico.
Ao vivo (e também em disco), há muito tempo que Legendary Tigerman deixou de ser obra de um homem só. Em palco o homem-tigre faz-se acompanhar por Cabrita (saxofone e teclas) e Filipe Rocha (baixo e sintetizadores). Mais recentemente, juntou-se Mike Ghost na bateria e Sara Badalo, a mulher responsável por dar corpo e voz em palco às mulheres convidadas nas canções de Tigerman em Femina e agora em Zeitgeist.
Novas pessoas trazem novas ideias. Desta dinâmica resultam novos arranjos nos temas antigos, aproximando-os da vibe do recente disco tocado quase na íntegra há poucos dias no Lux. Um alinhamento aberto com “Everyone”, em jeito spoken word de Jehnny Beth (das Savages) projetada na tela de fundo de palco, revisitando mais à frente “Motorcycle Boy”, “Black Hole” e “Fix of Rock n’ Roll”, obras maiores de Misfit, disco de 2017.
Pelo meio, deixa-se a guitarra de lado para pegar em caixas de ritmos hipnóticos. Parece despropositado mas não. A interpretação de “Ghost Rider”, original intemporal dos Suicide, é incrível! “Loosers” do novo disco não lhe fica atrás, com destaque para o filme que acompanha o tema, criado em inteligência artificial por Edgar Pêra, em jeito de catarse apocalíptica. Sinal dos tempos, mais uma vez.
Linguagem sem fronteiras, num passo em frente, sem quebrar com o espírito roqueiro que lhe corre no sangue. Este é o novo tempo do homem-tigre.