Altar faz em breve um ano e será celebrado nos coliseus de Porto e Lisboa: antes, Londres – e a lindíssima Union Chapel – acolheu os alcobacenses The Gift para um concerto intimista, pautado por requinte e emoção.
A ideia, confidenciou-nos o compositor Nuno Gonçalves, era fazer um espetáculo menos abrasivo e mais acolhedor, até porque a Union Chapel – uma igreja, tradicionalmente dedicado a outros cultos que não a música – impunha alguns limites sonoros. Vai daí, e toca a atirar surpresas: de Film, imponente disco de 2001, veio a sempre possante “Front Of” e uma inesperada “Song For a Blue Heart”; a AM-FM, de 2004, os Gift foram buscar “Guess Why” e “Music”; Primavera, o disco gravado em 12 dias no Centro Cultural de Belém (CCB) depois da explosão rock de Explode, foi também lembrado com dois temas.
A jogar a mais de dois mil quilómetros de casa, os Gift souberam usar o espaço que os acolheu em Londres e sabiam que este era um momento especial. Brian Eno estava na assistência, mas isso não foi grande novidade nem sequer teve particular relevo – a produção do mago foi decisiva para Altar, sim, mas as portas que os quatro de Alcobaça (e músicos de luxo que os acompanham) têm conseguido abrir fora de Portugal têm em Eno parceiro e cúmplice mas não responsável de ponta.
Nos coliseus do Porto e Lisboa – em concertos no começo de março – avizinham-se noites completamente diferentes: mais rock, mais expansivas, onde não deverão faltar clássicos como “RGB”, “11:33” ou faixas cantadas em português (ausentes em Londres), mas quem presenciou a noite da Union Chapel sentiu um orgulho especial no grupo que, timidamente, se apresentou há 20 anos no CCB para fazer a primeira parte dos Divine Comedy, com o primeiro álbum – Vinyl – acabado de editar. Quem estas linhas escreve estreou-se com os Gift ao vivo há 20 anos e teve o mais recente contacto na estupenda (todos os elogios são poucos) Union Chapel.
De lá para cá, viveu-se a vida e cresceu uma banda. E o futuro começa hoje.
Fotografia: Francisco Fidalgo