Foi considerado um dos melhores álbuns dos anos oitenta e vendeu como ninguém esperava que vendesse. A crítica musical passava a ter uma nova artista a quem fazer as melhores, as mais variadas e justas vénias. Em 1985, nascia a estrela Suzanne Vega!
Suzanne Vega entrou nos ouvidos do mundo em 1985 e fez nascer um álbum clássico logo à primeira tentativa. Ainda hoje é muito bom ouvi-lo, e quem foi adolescente no tempo em que “Marlene On The Wall” se tornou viral em rádios e televisões, recorda-o com o carinho que merece. É, de facto, um enorme disco, embora o que veio a seguir (Solitude Standing, de 1987) ainda se tivesse mostrado melhor em génio e engenho. Os ouvintes de gosto requintado, tinham em Suzanne Vega a sua nova namoradinha, adoravam-na, morriam de amores por ela. Nada que fosse de espantar, tal o lote de canções desses dois discos de início de carreira. Mas cada coisa a seu tempo, e hoje é o momento de nos determos no primeiro, no disco homónimo, que da fragilidade e da simplicidade dos seus temas, soube edificar a sua própria fortaleza e robustez. É um disco para todas as horas, um disco que nunca nos deixa ficar mal, quando o colocamos a girar. Sabemo-lo de cor, ao fim de mais de três décadas e meia. É obra! É Suzanne Vega!
Para além de ser constituído por dez irrepreensíveis canções, é também de notar uma outra verdade: as palavras cantadas são pura poesia, prolongam um lastro de tradição de grandes poemas cantados por outros cantautores norte americanos, desde Dylan a Joni Mitchell, apenas para nos referirmos a vozes que também se destacaram através das palavras, do canto das mesmas e do som das cordas das suas violas, tal como Suzanne Vega. No entanto, não se escuta Dylan ou Mitchell aqui, nem queremos colocar Suzanne Vega no patamar da dupla referida, mas é inegável que uma certa aura folk confessional e intimista que reconhecemos nesses bons monstros que se revelaram ao mundo duas décadas antes, também a sentimos em “Cracking”, “Freeze Tag” ou “Small Blue Thing”, por exemplo. Ou em todos os outros temas do álbum, na verdade. E o que perpassa por todos eles é uma fina camada de delicadeza, que anda solta e se move transversalmente da primeira à última faixa. A simplicidade dos temas (simplicidade aparente, bem entendido, porque se molda ao ouvido com uma facilidade excecional) deixa-nos desarmados. A vertente onírica de algumas das melodias que se ouvem no disco é outro dos seus principais trunfos, e a reação de quem ouve todas estas canções é a da adoção imediata. O álbum torna-se nosso à primeira audição, e à segunda já lhe fazemos juras de amor eterno. Juras sérias, daquelas que se cumprem com o prazer inocente mas honrado das primeiras e assolapadas paixões. Com canções como “Straight Lines”, “Undertow” ou “The Queen And The Soldier”, uma das mais belas narrativas líricas de amor reprimido e tortuoso que conhecemos. É tudo tão intenso em Suzanne Vega, mas ao mesmo tempo tão frágil e inquietante que ninguém sairá indiferente depois de ouvir o disco. E nós, que já o fazemos há uma pequena eternidade, sabemos da dimensão nele contida, e por isso o temos sempre tão perto, mesmo quando passamos anos sem o retirarmos da estante onde guardamos os nossos mais preciosos elepês.
Os primeiros versos que se ouvem em Suzanne Vega são “It’s a one time thing / It just happens / A lot”. Na verdade, eles iniciam um poema sobre os momentos em que, pelas mais variadas razões, ficamos paralisados, sem capacidade de resposta, impróprios para qualquer reação. Aconteceu-nos o mesmo em 1985. E, a bem da verdade, é ainda isso que acontece quando ouvimos pela enésima vez o título de estreia da cantora norte americana.