O rock, ao contrário do que muitos dizem, segue vivo, mas já não se faz assim há alguns (largos) anos.
Ouvir Core, em 2019, é uma experiência estranha. É um registo diferente de tudo o que se ouve hoje, de tudo o que nos rodeia, quando estamos prestes a entrar numa nova década deste novo século. E o peso da idade ressalta logo à vista (audição) mal arranca “Dead & Bloated”, o início à capella de Weiland, a bateria como que a bater palmas, um riff virtuoso a ocupar toda a cena. O primeiro pensamento que ocorre é que ninguém com menos de 30 anos (e estou a ser simpático) ouvirá os Stone Temple Pilots em 2019, é uma sonoridade múmia, embalsamada e encafuada numa qualquer pirâmide com deserto à volta. E ainda assim, sabe bem ouvi-la, e não só pela nostalgia envolvida na coisa, mas também porque é um disco óptimo.
Voltemos por umas linhas a 1992, ano de explosão do rock até então chamado alternativo. O tsunami Nevermind varre o planeta, originando sequelas – toda e qualquer banda de Seattle metida num saco chamado grunge passou a ser a salvação do rock. Pelo meio foram agarrar também algumas que, mesmo não sendo de Seattle, estavam no espectro (casos de Smashing Pumpkins e estes Stone Temple Pilots). A verdade é que o saco foi terrivelmente amanhado e as bandas, ainda que pegando nas suas pranchas para aproveitar a onda, cedo perceberam que, ainda que houvesse várias semelhanças, as diferenças não lhes ficavam atrás. Enquanto que os Nirvana são seguidores directos da linhagem alternativa que vem desde os Sonic Youth e Pixies, os Stone Temple Pilots vêm da linha ao lado, do rock clássico como Aerosmith e Led Zeppelin. Weiland quer ser o tradicional rock star à la Jim Morrison (papel que levou mesmo a sério, até ao fim da sua vida, chegando a encarná-lo por uns minutos num programa da VH1), a milhas de um Vedder que recusa entrevistas e quer ter uma palavra contra o sistema de promotoras de concertos. Nados e criados em San Diego, subúrbio de Los Angeles, lidam bem com os holofotes, querem-nos para si e a música é a forma que escolheram para a fama e sucesso e tudo o que vem com isso.
Core possibilita-lhes a ascensão, que irá ser confirmada também no disco seguinte Purple, de 1994. Arranca com um trio de ases, a já acima referida “Dead & Bloated”, “Sex Type Thing” – estrondosa e quezilenta, letras que seriam impensáveis em 2019, e “”Wicked Garden”. Paragem para respirar (“No Memory”) e seguimos para “Sin”, seis minutos de hard rock estrondoso, de ser ouvido em estádio cheio, com o foco em Weiland de megafone na mão. “Creep” é a balada obrigatória, delicada e doce, cujas letras qualquer miudo que os apanhou na altura sabe ainda hoje. Não fosse já isto tudo suficiente, ainda temos um dos hinos da época, “Plush” de seu nome, uma das melhores perfomances da banda e de Weiland com o seu timbre muito pessoal, parecido com tantos outros na mesma medida que diferente.
Não vou, nem aqui se pretende convencer ninguém, a ir ouvir Core, não é esse o propósito, suponho que as reações não serão as melhores. Mas que é um álbum que marca uma época, disso não haja dúvidas.