Scott Weiland, vocalista e símbolo maior dos Stone Temple Pilots, morreu na passada quinta-feira. Foi-se um músico carismático e um dos últimos grandes heróis do rock norte-americano dos anos 1990. Não se pode dizer que a cessação de vida do músico tenha apanhado o mundo de surpresa – talvez a surpresa maior seja mesmo Scott Weiland ter chegado aos 48 anos de idade. Os recorrentes abusos de drogas pesadas são parte sempre presente quando se fala de Weiland, mas o legado que importa recordar é outro: o de um músico extraterrestre, de outro mundo, diferente, carismático, empático. E fazedor de grandes canções de rock.
Core, em 1992, marcou a estreia dos Stone Temple Pilots nos álbuns. É o disco mais celebrado do grupo e de onde saíram mais hinos: “Sex Type Thing”, “Creep” ou “Plush” são hinos de geração, secundados no mediatismo na comparação entre o seu impacto e o de faixas de então de Nirvana ou Pearl Jam, mas não por isso menos imortais para quem nos Stone Temple Pilots viu algo perto da epifania. Já então Weiland chamava a atenção: à sua volta girava uma banda em ponto de rebuçado – irmãos DeLeo na guitarra e baixo e Eric Kretz na bateria – mas era o vocalista que canibalizava atenções. Purple, em 1994, e Tiny Music… Songs from the Vatican Gift Shop, dois anos depois, consolidaram o mito: o primeiro seguia a linha da estreia, mas Tiny Music… vê a banda explorar novos territórios com vincado sucesso artístico – há traços glam, uma elegância pop, algum psicadelismo e uma fina sensibilidade melódica que aliados ao rock da escola grunge garantiram aos Stone Temple Pilots um lugar na quase eternidade. O sucesso comercial não foi gigante nem tão pouco comparável com os tomos passados, mas a marca autoral estava assegurada.

Em 1999 o grupo editou N.º4, disco meio caminho entre o glam, o heavy-metal e homenagens mais ou menos subentendidas a alguns dos grandes: Weiland a certa altura canta como Jim Morrisson, há referências a Bowie, letras e vivências meio caminho entre o sexo, a droga, a prisão e a reabilitação. É um ótimo disco. Shangri-La Dee Da, de 2001, vê o grupo largar a brilhantina e amolecer as suas composições: é o disco mais pop e talvez acessível de sempre, mas a história não guarda deste punhado de canções mais que um menos feliz momento que põe termo à primeira vida dos Stone Temple Pilots. Antes, já Scott Weiland havia editado um álbum a solo – 12 Bar Blues, em 1998.
Depois houve uma compilação de sucessos antes do disco homónimo dos Stone Temple Pilots, editado em 2010, sexto e último trabalho de originais gravado com a formação original. Não deixa particulares saudades, também. Os Stone Temple Pilots prosseguiram com outro vocalista, Chester Bennington, dos Linkin Park, Weiland avançou a solo e depois com os Wildabouts, a banda mais recente que formou. A última banda de Weiland.
E os Velvet Revolver, pergunta o estimado leitor? Merecem uma referência simpática: à base instrumental dos Guns’n’Roses – Slash à cabeça – juntou-se Weiland para a gravação de dois discos de rock sem merdas: um homónimo, em 2004, e Libertad, em 2007, são ótimos trabalhos, improváveis discos cheios de boas malhas de uma banda menor que a soma de todos os seus egos. Não por acaso, foram recorrentes as notícias que indicavam um afastamento progressivo de Weiland do resto dos músicos. Recordamo-nos da vinda do grupo a Portugal em 2004, para um concerto no Coliseu dos Recreios de Lisboa. De tarde, em entrevistas num hotel na capital, todos os elementos do grupo foram relativamente prestáveis e profissionais, revezando-se entre alguns jornalistas portugueses para explicar quem eram os Velvet Revolver, acabados de chegar como grupo à indústria musical. Um só músico abdicou de dar entrevistas: Weiland, Scott Weiland. De noite, contudo, a bomba humana estava lá toda: vozeirão enorme, carisma, energia, dramatismo e densidade. Um frontman à séria.
Scott Weiland morreu na passada quinta-feira. Com ele foi-se parte da nossa adolescência. Os primeiros cigarros fumados atrás do pavilhão C da escola, as experiências com substâncias pouco lícitas, aquela malha de guitarra que aprendemos a tocar para impressionar garotas. Scott Weiland estava lá. Kurt Cobain também, Lainey Staley também, Andrew Wood também, e tantos mais – alguns ainda, felizmente, bem vivos. Mas nem por isso dói menos a punhalada que levámos na quinta-feira.