Bons discos de pop era com eles. Foi assim durante bastante tempo, até que o próprio tempo acabou por pôr um fim à carreira da banda. Era isso que julgávamos definitivo, pelo menos até 2010, quando decidiram voltar aos álbuns com Spot The Difference, trabalho de regravação de temas antigos muito próximos dos originais, daí a pertinência do título atribuído. Foi preciso esperar mais cinco anos desde aquela data para termos um lote de uma dúzia de novas composições. Se valeu a pena a espera? Sim e não, mas a razão faz-me sublinhar mais a anuência do que a recusa. A razão e o saudosismo, para ser mais honesto comigo próprio. Senhoras e senhores, os Squeeze estão de volta!, e fazem com Cradle To The Grave uma festa como há muito não faziam, pelo menos desde East Side Story (1981), embora Play (1991) não seja um trabalho totalmente desinteressante. Palmas, portanto, para Chris Difford, Glenn Tilbrook e companhia.
O problema maior deste disco reside num facto que transcende a generalidade das suas canções. Ou seja, é-lhe exterior. É que eu vivi intensamente o tempo áureo dos Squeeze, vendo sair, um após outro, os álbuns de perfeição pop new wave que foram gravando nos finais dos anos setenta e princípio da década seguinte, pelo que os discos e os anos posteriores foram sempre, por comparação, de uma confrangedora qualidade. Desde East Side Story (1981), trabalho superlativo e dificilmente superável, que a banda inglesa não se atirava ao fabrico de canções com um resultado final tão bem conseguido. No entanto, e esse é o tal problema que há pouco referia, Cradle To The Grave fica ainda a muitos quilómetros de distância do já mencionado disco de 1981, ou de Cool For Cats (1979) e Argybargy (1980). E para quem, como eu, presenciou esses tempos, não é fácil esquecer-se da qualidade das canções que faziam parte desses clássicos trabalhos. Dada esta necessária explicação, vamos ao novo disco sem demora.
“Nirvana”, a segunda composição do novo álbum, faz-me abrir um nostálgico sorriso. Gosto dela, gosto do sabor retrô que transporta, parece-se já um pouco com os Squeeze que sempre apreciei. Boa letra, excelente até, com um jeito dançante implacável. Mais suave, mas talvez mais charmosa, vem “Beautiful Game”, com uma sobreposição de vozes que enriquece bastante a canção. Começa bem, o disco, perdendo-se um bocadinho nos temas seguintes. No entanto, volta a encontrar alguma alma em “Sunny”, bem marcada pela força das cordas iniciais. Não é um clássico, mas parece-me excelente na marcação rítmica bastante incisiva, sem qualquer necessidade de existência de bateria ou percussões. Mais uma vez, como sempre souberam fazer melhor do que ninguém, a narrativa contada é ótima. Difford e Tilbrook são imbatíveis contadores de histórias, inundando-as de personagens e ironias a que dificilmente se fica alheio. As canções dos Squeeze sempre tiveram esse trunfo. “Honeytrap”, um pouco mais à frente, é uma canção que cresce a cada audição, já na ponta final do disco, até que se dá o desfecho com a bonita “Snap, Crackle and Pop”, que varia entre a exaltação e a serenidade.
Feitas as contas, foram precisos quase dezoito anos de espera para que um novo álbum de originais da banda de Depford surgisse. E sim, acho que valeu a pena. Cradle To The Grave está longe de ser um futuro clássico, mas consegue matar as saudades que os anteriores oito ou nove discos não mataram, e isso já quer dizer alguma. Mais ainda, as vozes de Difford e Tilbrook continuam a soar muito bem, parecendo até que o tempo não lhes retirou o que a natureza lhes deu: a delicadeza, a doçura, os timbres que os ouvidos do mundo sempre aceitaram de bom grado. Uma última nota para a capa, verdadeiro achado de cor e simbologias, pelo menos para a interpretação que faço dela. Sem querer ser taxativo ou exaustivo nas minhas apreciações, será indevida a leitura que faço ao encontrar pontos de ligação entre a musculada figura central da capa deste álbum e a capa de Squeeze, disco inicial da banda? Quererá isto dizer que Cradle To The Grave é uma espécie de novo começo? Ou representará, olhando mais para o título, uma última etapa de um trajeto com mais de quarenta anos?
De qualquer das formas, sejam bem-vindos, Squeeze!