Daydream Nation foi o álbum que fez unir uma nação de sonhadores à sua volta, a nação alternativa americana, cansados que estavam de anos de Reagan e marginalização da juventude.
Ando há 6 meses a carregar o peso de ter este disco em draft. O que significa isto de ter o disco em draft – significa que decidi que o ia escrever (era uma grande falha do Altamont), fiz a preparação do terreno (colocar capa, spotify, youtube, etc no artigo) e coloquei o CD no carro (sim, CD, sou da velha guarda). Nesse período, como podem imaginar, ouvi os 70 minutos que o compõem intensivamente, sempre à procura de palavras, frases que se me despertassem no cérebro enquanto vasculhava os recantos de cada música. Mas o que é certo é que o estado de constante deslumbramento não me permitiu processar a informação que me estava a chegar via ouvidos de forma a com ela fazer o que pretendia – escrever o raio do artigo. Várias vezes estive a milímetros de pura e simplesmente desistir da empreitada, não me sentindo com capacidades para a mesma. Afinal de contas, quem sou eu, que percebo eu de música para conseguir ter um olhar crítico perante tal portento de disco? Percebo, portanto, se quiserem ficar-se por aqui em termos de leitura e avançarem para a parte que mais interessa deste artigo – o link para o ouvirem, quer em formato spotify, quer em formato youtube (à distância de um simples scroll down).
Ok, agora para o 1% dos leitores iniciais que, mesmo avisados que não tenho nada de especial para dizer (teimosos…), querem perceber o alcance de Daydream Nation, pois bem, eu digo-vos o alcance com um exemplo bem semelhante – Nadia Comaneci, Jogos Olímpicos de 1976. Um feito que parecia inalcançável, de tal modo que nem os marcadores electrónicos estavam preparados para tal (é icónica a sua foto ao lado do marcador a aparecer 1.00) a perfeição num instante que muda as regras, muda o curso da história. Assim o fez também Daydream Nation, sem o qual não haveria Nirvana, sem o qual quiçá muitos nunca ouviriam uns Pixies ou uns Dinosaur Jr. A capacidade de colocar em disco a essência dos Sonic Youth, ou seja as longas improvisações ao vivo, a combinar de forma simbiótica com melodias de fundo é única e mostrou ao mundo as capacidades de uma geração que viveu oprimida pelos anos de presidência republicana. Foi o explodir da bomba que andava a ser alimentada há anos por uma contra-cultura juvenil com raízes no conhecimento de cinema e literatura, arte em geral, aliada à cena skater e, claro, a uma cultura musical profunda, desde os Velvet Underground aos Led Zeppelin, passando pelo do it yourself do punk.
“Teen Age Riot” é a música de arranque do álbum e só o nome resume tudo o que acima foi dito. É portento de música rock, o esplendor total. “Silver Rocket” não lhe fica muito atrás. “The Sprawl” e “Cross the Breeze” deviam ser ensinadas às criancinhas desde os 3 anos. “Hey Joni” arranca num ritmo infernal mas a meio ainda consegue meter uma abaixo e acelerar mais, logo após o “Kick it!” de Lee Ranaldo. “Kissability” é de dar vontade de oscular compulsivamente Kim Gordon. E a trilogia final, palavras para quê? Para nada. Acabei por escrevê-las, consciente da não necessidade das mesmas, da supremacia da arte de uma guitarra sobre conjugação de letras. Um 10 perfeito não precisa de mais.